Memórias da Embarcada: A despedida do último comandante embarcado.

O Tenente Coronel Paulo Cezar Souza Lima foi o comandante do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada entre FEV95 e FEV97. Quiseram os deuses do serviço público brasileiro 

que este distinto oficial fizesse frente ao fim de tudo o que, para todos os fins práticos, significava a "Embarcada". As chefias da Força Aérea Brasileira (FAB) determinaram para DEZ96 o encerramento das atividades dos P-16, as máquinas que permitiam as operações aéreas embarcadas em porta-aviões. Mas, isto não era o mais importante. Sem os P-16 não haveria mais operações embarcadas, nem a capacidade de luta anti-submarino (ASW), quer em favor da Esquadra, quer em favor da defesa do litoral brasileiro. Pois foi tudo o que aconteceu a meio período de comando do T. Cel. Souza Lima. Como eu disse antes, o fim de tudo, para todos os fins práticos; foi, portanto, o último comandante EMBARCADO.

As cerimônias de transmissão de cargo do comando do 1º GAE começava sempre com a missa na capela da Base Aérea de Santa Cruz. Oficiou o Pe. Fernando, sempre tão dedicado quanto inspirador Capelão da base.

Na Sala Histórica do GAE (preservada até hoje), a transmissão do Bastão de Comando. Infelizmente, poucos anos depois aquela linda parede de troféus foi desfeita, e seu valioso acervo posto fora. Eventualmente, alguns troféus foram distribuídos pelas seções do hangar, mas hoje, fora alguns que eu consegui juntar aqui e ali, acredito que se tenham perdido.

O T. Cel Souza Lima prestes a revelar a sua fotografia na galeria dos Ex-comandantes do Grupo.

O Bastão de Comando do 1º GAE prestes a ser passado ao Comandante que assumia, o T. Cel Souza. Reparem nas bolachas de ganchos, no lado ESQ dos macacões. Na verdade, o T. Cel. Souza ultrapassou os mil pousos a bordo do Minas Gerais, e o T. Cel Souza Lima "...mais de 970, e menos de 1000...", conforme contou-nos, lamentando não ter registros mais confiáveis.

Além das medidas oficiais, trabalhou com antigos membros da Embarcada então ocupando cargos de chefia nos mais diversos setores da FAB, apelando ás autoridades competentes no sentido de preservar a Unidade e o custoso "know-how" da nossa especialidade, a Guerra Anti-submarino (custoso tanto em termos de tempo e dinheiro necessário para adquiri-los). Tentando salvar os nossos aviões, também, ainda com cerca de dois terços de suas vidas de célula disponíveis, publicou artigos na imprensa especializada, argumentando contra o fim do GAE.

Diante do palanque com as autoridades, o comandante que sai e o comandante que entra se posicionam para a cerimonia de transmissão do cargo.

Formalizada a entrega e assunção do cargo, o nono comandante passa a tropa do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada em revista.

Operacionalmente, o T. Cel Souza Lima espremeu as seções de armamento (onde eu servia) e comunicações para que, ali mesmo em Santa Cruz, instalassemos capacidades novas no P-16, usando-o no papel de interferidor, lançando chaff para apoiar ataques dos F-5E e A-1; Também ensaiamos o emprego de data-link do CNPqM nas operações táticas com os navios da Esquadra. Coisas das quais ainda só se ouvira falar no contexto da FAB. Corajosamente, esperneou o que pode; um dos muitos heróis que eu conheci na Embarcada, e por tudo isto lhe dedico o máximo respeito. Todos os Bravo-Zulus. As fotos vieram dos descartes dos fotógrafos, e por ter tropeçado nelas, achei que seria justo trazer à lembrança o Coronel Souza Lima...

O T. Cel. Souza Lima se dirige à Embarcada pela última vez. Não custa acrescentar que a última saída ASW de Santa Cruz foi conduzida por ele, pilotando o 7037, quando lançaram algumas cargas de profundidade de exercício (PDC) sobre o submarino Tupi (S-30). Diz-se que foram ouvidos alguns xingamentos no rádio.