Num porta-aviões, o que não queima, explode...
...escrevendo o livro "Incredible Victory" (Em português, "Midway a vitória impossível", publicado pela Nova Fronteira), sobre a batalha de Midway, Walter Lord entrevistou muito sobreviventes dos porta-aviões envolvidos, tanto Japoneses quanto americanos. Ele descreve como um deles, um piloto do Kaga, o suboficial Morinaga, tentou, em desespero, organizar algum esforço contra os incêndios que grassavam descontrolados pelo navio, alimentados pelas explosões contínuas de munição e carburantes dos aviões e equipamentos: "[...] ele tentou atirar combustíveis na água, mas em um porta-aviões quase tudo é combustível." Claro, aqueles eram incêndios provenientes da ação do inimigo, que te joga bombas. Mas fogo é fogo, e ele pode vir de qualquer fonte. Daí a importância do condicionamento contínuo da tripulação no combate às chamas.
O fonoclama do navio anunciava: "...MINAS GERAIS... faina de reabastecimento de aeronaves, é proibido fumo, corte e solda entre as cavernas tal e qual...". Tudo para evitar qualquer coisa que servisse de fonte de calor para algum vapor de combustível, algum vazamento não detectado. Cuidado e treinamento constante, contra as eventualidades, por isso, dá-lhe exercício: "...MINAS GERAIS, isto é um exercício, incêndio na BRAVO UNO, guarnecer postos de combate!..."; MINAS GERAIS!...crashe no convoo, guarnecer postos de combate!... Duas, três, quatro vezes por dia. Muitas vezes, na sequência do exercício se ouvia "MINAS GERAIS!...isto é um exercício, incêndio fora de controle... preparar para abandonar o navio; guarnecer postos de abandono!
Com ou sem exercícios de abandono, nos meus dias de mar, testemunhei três incêndios a bordo (Neste caso, o 'boca-de-ferro' anunciava: "...MINAS GERAIS!... ISTO NÃO É um exercício..."). Num deles, de fato, cheguei mesmo a guarnecer uma linha (mangueira), eu e o Ronaldão. Noite escura como o diabo, não se via o mar dez metros abaixo, e nós debruçados sobre o talabardão a boreste da ilha; o Ronaldão abraçando a cintura de um campanha de marinha que manejava uma linha de resfriamento, que ele lutava para dirigir contra a área do costado do navio tocado pelo compartimento que se incendiava, e eu agarrado no talabardão, fazendo um gancho com o meu braço esquerdo, e a mão direita segurando o Ronaldão pelo cós da calça dele, esperando que o cinto e o arreio abdominal do salva-vidas fossem fortes o suficiente. Como eu não tenho netos, divido a experiência com o digno leitor. Seja como for, embora eu não conheça estatísticas, eu diria que o Minas Gerais era um navio super disciplinado e seguro.
Eu e o Ronaldão no corredor do Brifim Dois, depois dele levar uns pontos na cabeça, entre MAR/MAI96. Que grande sujeito! Todo recheado de integridade em estado puro. Grande sujeito! |
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