"Voo das Múmias", e como trazer o teu avião para bordo.


...há 40 anos, em JUN80, o "Voo das Múmias". Este evento fazia parte da celebração anual da chegada dos primeiros aviões do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada ao Brasil, em 1961. Era a chance dos pilotos que já haviam deixado o Grupo (as múmias), de se reencontrarem com os controles dos P-16 e com o "catrapo", os pousos simulados em porta-aviões, realizados em terra. Para este tipo de voo, se utilizava uma reprodução do sistema ótico e de controle via rádio, que os pilotos encontravam a bordo do Navio. 

O Oficial Sinalizador de Pouso (OSP) permanece em contato rádio com o piloto que realiza a aproximação. Embora este tenha o controle do avião, e use as referências visuais do Espelho de Pouso, as instruções recebidas do OSP são mandatórias. Se este não estiver satisfeito com a aproximação, ele tem o poder (e o dever) de interrompê-la, ordenando um "wave off".

A Kombi amarela, ano 1961, que funcionava como estação de força para os catrapos nas cabeceiras de Santa Cruz, a "Arara"; "Joca, Joca é a Arara, solicita permissão para o cruzamento da 04". O OSP é o Capitão Reale, mais tarde, grandemente admirado e respeitado comandante da unidade. E olha que a tropa é exigente... 

Em 1980, estava em uso ainda o "Espelho de Pouso", que oferecia ao piloto em aproximação uma referência para rampa ideal de descida, calculada de maneira a que o seu avião tocasse o convés de voo (convoo), na área coberta pelos cabos de parada. São estes cabos que compõe o sistema de desaceleração destinado a reter os aviões a bordo; sem eles não há maneiras de parar um avião que pretenda pousar em um porta-aviões.

O espelho côncavo distorce a imagem do avião, no momento em que se acendem as luzes azuis de "Corte", no topo do equipamento. Vendo-as, o piloto corta a potência dos motores, e o avião afunda para o toque no que seria a área do convoo, atendida pelos cabos de parada. As luzes verticais, nas laterais do Espelho eram vermelhas, e os OSP as faziam acender, ordenando uma arremetida ao piloto; "Wave off".

Na ponta desta haste havia um espelho retrovisor, que permitia verificar se o Espelho estava refletindo a luz da bolinha no ângulo correto para a aproximação dos aviões. Esta linha de lâmpadas em primeiro plano, se projeta contra o Espelho, que as reflete na forma da "bolinha", para o piloto. Lá no horizonte, a silhueta do grande hangar dos dirigíveis alemães. 

A superfície côncava do Espelho de Pouso refletia para o piloto que se aproximava, a luz âmbar de um conjunto de lâmpadas posicionado à frente do Espelho. Era a indefectível "bolinha", que o piloto deveria manter alinhada (nem acima, nem abaixo) com a linha de luzes azuis, formada pelos longos braços laterais do espelho. Este ajuste da rampa de descida, referenciado à posição da bolinha, deveria ser "trabalhado" usando-se as manetes de potência, sem alterar a atitude do avião, preservando-o de um afundamento acentuado (o que significava um encontro violento com o convoo).

A mistura de trajes civis e militares indica a presença das "múmias". A Arara aparece
 conectada à rede de alta tensão, que seu conjunto de transformadores adequava para o uso do Espelho, bem como do equipamento rádio.


Mantendo a bolinha alinhada, o piloto tinha garantida uma rampa de descida tal, que além de colocá-lo sobre a área dos cabos, garantia uma separação segura entre o gancho de parada do avião e a "rampa", a borda do convés de voo. É bom ter em conta que o gancho de parada vinha pendente sob o avião, significativamente mais baixo que as próprias rodas, o que se acentuava com o voo 'cabrado' (com o nariz alto) da aproximação. As fotos foram escaneadas de negativos muito deteriorados, feitas pelo Sargento Aguiar...

Troca de pilotos, de maneira que cada um pudesse desfrutar do "reencontro".

Aparentemente, o Major (?) Guido conversa com duas "múmias". Ele também viria a ser um comandante muito celebrado da unidade.

Comentários

  1. Maravilhosa estas histórias! Nos fazem viajar...

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  2. Cara, estou mergulhando nos posts a dias, meus parabéns pelo seu trabalho.
    Estou muito feliz em ter encontrado esse blog.

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    1. ...tchê! Muito obrigado. Tu não sabes como isso deixa a nós, os veteranos da unidade, felizes! Muito obrigado...

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