A grife Embarcada para as temporadas de 1965 a 1996.
...claro, para os veteranos do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, a mera lembrança dos uniformes usados no convés de voo do Minas Gerais trazem um mar de imagens, de lembranças. O ponto alto dos nossos modelitos era o "Gambá", a nossa roupa marrom com a faixa branca na frente e atrás. Para quem chegava no Grupo, o mais comum era ouvir que aquela malha tinha este nome em função de serem usados dias a fio, sem a possibilidade de serem lavados. Eu sei que, volta e meia, tinha gente um pouco assim, mais rude, avessa ao asseio, mas o Minas tinha lavanderia, a Seção de Equipamento de Voo carregava toneladas destas peças para bordo; ora, qualquer um poderia mandar lavar, ou, trocar o equipamento, só pra não passar o dia chamando a atenção dos colegas por estar cheirando mal. Daí que eu penso que, como devo ter ouvido, aquele uniforme ganhou aquele nome, meramente por lembrar a imagem clássica dos gambás, dos desenhos animados, que tem aquela faixa branca no dorso. Na verdade, os uniformes coloridos destinavam-se a identificar o pessoal no convés de voo. Abaixo dele, o pessoal do navio vestia seus uniformes cotidianos da Marinha, fossem os cinzas ou os macacões operativos.
O sistema de roupas coloridas reproduzia/adaptava o que os americanos faziam nos seus porta-aviões, e naquele modelo de organização, o Departamento de Aviação era composto das suas diversas Divisões, cada qual com uma função, e uma cor de roupa a identificar os seus homens. O pessoal da manutenção de aeronaves (Divisão Victor Seis e Victor Sete - V-6, V-7) era o pessoal que vestia o tal do marrom; liso para Cabos e Soldados, com a faixa branca para Suboficiais e Sargentos, sendo que os oficiais apenas adicionavam um gorro amarelo, para diferenciá-los.
Outra imagem marcante eram os uniformes brancos com as cruzes vermelhas dos enfermeiros. O 1º GpAvEmb não possuía enfermeiros na sua Tabela de Dotação de Pessoal (TDP), mas os padrões de operações a bordo, do Grupo, exigiam, além do médico da unidade, um enfermeiro para acompanhar cada embarque. Isto nos permitiu conhecer sujeitos geniais, esses enfermeiros (claro, naquele tempo, só homens a bordo) cedidos pelo Esquadrão de Saúde de Santa Cruz. Dos que eu conheci, não deixaria de citar, mesmo sabendo que estou esquecendo alguns (mas é só a memória que me trai), Sargento Sloboda - o pai daquela calma assertiva, que gera toda a confiança que um paciente precisa; Sargento Longobucco, o gigante gentil, ENORME boa praça. Acho mesmo que o Adilson, com quem trabalhei mais tarde no ES, chegou a embarcar conosco. Grandes sujeitos, grandes parceiros, abraçavam aquele desafio como se fossem parte da unidade, sem reclamar de nada. Estavam lá, cuidando de nós, dia e noite.
Os enfermeiros. O médico, o "doc", usaria um gorro amarelo. |
A boa disposição daqueles "estrangeiros" ganha significado, justamente porque, quando os conheci, eram tempos em que não havia compensação financeira para a separação familiar e afastamento dos cotidianos, consequências dos embarques constantes. Para nós não havia "diárias". Não se recebia mais do que a tal da "compensação de embarque", que rendia 3% do soldo (o antigo "soldinho"), por dia de mar (dia no porto não contava). Depois melhoraram as condições de remuneração, aí encontramos maior variedade de "voluntários", é verdade. Fosse como fosse, lembrar das malhas brancas permitem lembrar dos médicos da unidade. Não conheci muitos a bordo, mas é impossível pensar que os campanhas não irão saudar com carinho a lembrança do grande "doc", Dr Abrantes, um sujeito quase mítico, em quem confiávamos, e com o qual contávamos, cegamente. Devotamente, talvez. Aparentemente ele continua trabalhando, no Hospital Central, lá no Rio Comprido, no Rio...bem, lembranças, como disse...
Ainda sinto o cheiro do "gambá" até hoje, uma mistura de gasolina, graxa, óleo e suor. Ficou o trauma.
ResponderExcluir...agora é contar pros netos...
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