Impressões pessoais sobre a administração militar, a revitalização dos P-16, e o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada.
Por outro lado, se o objetivo fosse construir uma força crível de defesa e dissuasão para o combate sobre o mar, que houvessem todos os meios aéreos, de manutenção, de formação de pessoal, de treinamento! Sem desvios! Mas não era o que eu via (na verdade, nós não tínhamos nem torpedos, que eram a principal arma dos P-16!). Sempre que penso nisto me vem à cabeça o que dizia o abjeto Herman Goering: "Tudo o que voa me pertence!" (ou algo parecido)... mas, "tudo", sempre, acaba sendo coisas demais e, no fim, a Luftwaffe acabou como acabou! e sendo muito menos eficiente do que deveria (e poderia) ter sido (que bom pro mundo, convenhamos! Mas o exemplo administrativo e operacional permanecem válidos, para fins didáticos).
Seja como for, em algum momento de 1989, há quase sete anos antes da virtual extinção do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, e eu uso o termo "virtual" considerando que o Grupo não foi extinto em 1998, mas, para todos os efeitos práticos, a partir da desativação dos P-16, consumada em 30DEZ96. Sem dúvida, e sem espaço para eufemismos ou fugas discursivas, com os valentes P-16 a Embarcada perdeu (e a Esquadra, principalmente), inexoravelmente, tanto a capacidade de combate anti-submarino, quanto a de embarcar, portanto, nem ao nome fazia mais juz. Bem, como eu dizia, em algum momento de 1989 a revista inglesa Jane´s Defense Weekly publicou uma nota sobre a asinatura do contrato de remotorização de 12 P-16 para o 1º GpAvEmb. De acordo com a nota, destes doze aviões, um "procópio" (como nós chamávamos o protótipo, o P-16 7036, para brincar com o Suboficial Procópio) seria convertido no Canadá, e outros 11 kits seriam enviados ao Brasil, para conversão no PAMA-SP. Por sua vez, a revista Flight International publicou a notícia em 25FEV89, referindo-se apenas a 11 aviões.
Na verdade, a IMP, a empresa canadense que recebera a tarefa de converter a frota de P-16 brasileiros, já havia feito voar um outro avião do mesmo tipo em 15SET88, atendendo a um contrato de conversão firmado com o governo canadense. Na Embarcada estávamos exultantes. Finalmente acontecia a tão esperada remotorização! Moral elevado (mais)! As expectativas eram altas, referentes à possibilidade de viagens para o Canadá, aos dólares das diárias, e tudo o mais. Nada obstante, ao fim e ao cabo, entretanto, as chefias da FAB escolheram extinguir o projeto, o avião e a unidade, e o país ficou sem capacidade de defesa ASW de longo alcance por uns bons quinze ou vinte anos... depois, Salvador e, então, de volta pra Santa Cruz... baixa disponibilidade: problemas de fadiga estrutural. Quando na Inteligência do 4º/7º GAv eu fiz um dossiê sobre todos os programas de revitalização estrutural dos operadores de P-3 no mundo, principalmente os modelos A e B, e só por canais paralelos consegui que alguém o lesse. Idas e vindas! Quase como aquele relógio defeituoso, mitológico, do meu irmão Jairton, que segundo ele, dava "[...] um Tic pra frente, e dois Tac pra trás[...]". E eu volto a pensar na Luftwaffe, e se os portos da oitava economia mundial, as bacias petrolíferas, a infraestrutura costeira estão mais bem guardadas hoje do que estavam em 1988... dois Tac pra trás...
Seja como for, as imagens foram coletadas dos rescaldos que eu fiz nos escombros da unidade, e mostram aspectos da conversão do 7036 no Canada. O motor é um PT-6A-67 que, aqui, nunca entregou toda a potência prometida, pois nunca chegou a receber o sistema de injeção de água. Mesmo assim, o avião se houve muito bem nas experiências, inclusive em operações embarcadas simuladas, realizadas em Patuxent River, no US Naval Air Test Center, e a bordo do velho Minas Gerais.
Excelente relato, caro Thiesen! mas tem assunto para muitas outras charlas, só nesse episódio da modernização.
ResponderExcluirGrande abraço.
...sem dúvida, meu querido Gustavo! Vá "provocando" o nosso Coronel, e tomando nota do que ele diz! Muito obrigado pelo teu apoio constante!...
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