Um pouco dos últimos P-16 da encomenda original a chegarem em Santa Cruz.



...em 08AGO61 os P-16 7015, 7025 e 7026, todos já devidamente pintados nas cores do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, saíram de Key West na Florida, e apontaram seus narizes para o Sul (na verdade, algo mais para sudeste do que propriamente Sul), buscando Porto Príncipe, no Haiti, primeira escala no longo voo até o Rio de Janeiro. Na verdade, os demais aviões da Embarcada, os Cardeais do 1º/1º GpAvEmb (em outros artigos eu já tratei sobre os "Cardeais" e os "Anujás"), já lhes haviam precedido, em dois blocos, um com seis, e outro com quatro aviões cada, pelo mesmo percurso.

Os primeiros P-16 chegam em Santa Cruz, os 7016, 17, 18, 19, 20 e 23, em 05JUL61. Eu nunca encontrei registros da chegada dos demais grupos de P-16. Talvez ainda andem por lá, na Seção Foto da base.

Estes aviões foram os últimos três P-16 do GAE, da encomenda original, a serem entregues, isto devido a atrasos da própria Grumman, a empresa que os fabricavam, lá nos Estados Unidos. Na verdade, os 7015, 25 e 26 podem ter sido as últimas aeronaves de sua dotação, recebidas pelo 1º GpAvEmb, visto que os helicópteros H-34 (Sikorsky HSS-1), também foram entregues no mês de Julho precedente, ainda que trazidos ao Brasil por aviões C-124 da Força Aérea dos Estados Unidos. Contudo, dada a quase absoluta falta de registros da história dos Anujás, o 2º/1º GpAvEmb, no âmbito da própria Embarcada, não tenho como assegurar ao paciente leitor que aquelas entregas estavam completas em AGO61. Seja como for, ou como tenha sido, é bom lembrar que os aviões e helicópteros do 1º GpAvEmb foram recebidos pelo Brasil como uma permuta compensatória, no bojo do chamado Acordo de Fernando de Noronha, quando os EEUU receberam permissão para estabelecer instalações militares naquela ilha.

A primeira foto que eu tenho do 7026 no Brasil vem da sua participação na Operação Rio Negro, entre ABR/MAI62, um grande esforço de Relações Públicas da Força Aérea, na busca por conquistar "corações e mentes" para a sua causa, na disputa pelos aviões com a Marinha.

Anotações no verso das fotografias sobre a Operação Rio Negro, demonstrando o alcance midiático conseguido pelo Ministério da Aeronáutica.

Os Anujás foram extintos (a unidade, não o peixe) abruptamente, na canetada do Presidente Castelo Branco, em JAN65, que decidiu sobre a impossibilidade de a Marinha do Brasil possuir e operar os seus próprios aviões (pasmem) a bordo dos seus próprios navios. Os Helicópteros da Embarcada foram, portanto, entregues à Marinha. Bem (com o perdão do parêntesis), sintomaticamente, a Marinha os substituiu já em 1970, pelos modernos SH-3, enquanto a FAB levou até à exaustão os P-16 do 1º GpAvEmb, em DEZ96. Embora isto diga muito dos sacrifícios, denodo e proficiência dos homens da Embarcada, soa questionável quando se fala nas necessidades de defesa do país com mais de 8.000km de costa. Pra pensar na cama.

Os primeiros registros que eu tenho do 7025 no Brasil são, também, de ABR/MAI62, da Operação Rio Negro. Repare o distinto leitor nas marcações sobre o asfalto, me parecem simular os cabos de frenagem sobre um convés de voo, de maneira a atender às demandas da exibição para a imprensa.

Inscrições no reverso de algumas fotos da Operação Rio Negro que eu encontrei, revelando sua origem comercial.

Bem, efetiva capacidade Anti-submarino à parte, os três últimos P-16 da Embarcada pousaram em Santa Cruz em 12AGO, dando início às suas respectivas carreira, que deveras, foram bastante dinâmicas e coloridas. O 7015 conheceu mesmo um acidente importante, quando chocou-se com o solo durante uma decolagem desastrada. Não obstante, foi recuperado, transformado em utilitário, e voltou a voar, deixando o serviço ativo apenas quando os P-16 da encomenda original foram recolhidos ao Parque de Marte (PAMASP), em 1991 (À exceção do 7016, reservado ao MUSAL, o último a ir-se de Santa Cruz foi o 7023, que estava entre os seis primeiros a chegar, na primeira foto deste artigo). Depois da desativação completa dos P-16, em DEZ96, eles foram a leilão, e o 7015 acabou em um sítio temático em Conchal, São Paulo, o que parece indicar que a sua preservação está assegurada por alguns anos, ainda.

A primeira foto do 7015 em Santa Cruz que eu encontrei, foi feita no dia 22OUT62, durante as comemorações da Semana da ASA e do aniversário da BASC.

O 7015 bem abrigado, servindo à informação e lazer no seu lar no interior de São Paulo. Foi o meu amigo, e Cardeal Honorário, Leandro Casella, quem descobriu o site de onde tirei esta foto.

Uma longa vida sob as cores brasileiras também marcou a existência do 7025, que, inclusive, antes da aposentadoria, sofreu ele próprio um pouso de barriga em Santa Cruz (coberto em um artigo deste blog). Além disto, ele foi o primeiro P-16 convertido para a função utilitária, transformando-se no primeiro UP-16, circunstância que alcançou quase todos os seus irmãos. Os UP-16 perderam seus equipamentos de busca e detecção, recebendo a capacidade de transportar até cinco passageiros, e pequenas quantidades de carga, seja para bordo do Minas Gerais, seja para atender as próprias necessidades da unidade, quando deslocada, ou, em trânsito. Além disto, ao contrário das modificações dos US-2A na Marinha Norte-americana, os nossos UP-16 mantiveram sua capacidade de empregar armamento, o que lhes colocava como aviões de instrução, para os pilotos novos, chegados à Unidade. No leilão pós 1996, o 7025 acabou arrematado por uma empresa americana, e voltou para sua terra natal, onde pode até mesmo ter voltado ao voo, não se sabe, ou, fornecendo peças aos seus irmãos que ainda combatem incêndios florestais por lá.

O valente 7025, recém chegado ao Brasil, durante a Operação Rio Negro.

O 7025 na linha de voo em Santa Cruz, ostentando uma pintura comemorativa usada por pouco tempo, já convertido em utilitário. O sempre atento leitor que me brinda com a sua paciência já terá notado que o prefixo UP não está aplicado à deriva do avião. Aparentemente esta foi uma prática mais tardia. A imagem é de um slide solitário, que eu encontrei entre os escombros da unidade, depois da sua desativação. Por certo, além de inédita, esta imagem colorida é rara em se tratando desta pintura.

O 7026 não foi transformado em utilitário, pois encurtou sua carreira ao acidentar-se a bordo do Minas Gerais (evento também já coberto em outro artigo do blog). Ao contrário dos seus outros dois irmãos de translado EEUU/Brasil, vítimas de acidentes, ele não pode ser recuperado, sendo condenado ao ser retirado de bordo.



Com o Minas Gerais atracado, o 7026 é suspenso pela grua que o retirou de bordo. Perceptíveis o trem de pouso DIR e do nariz, destruídos pelo cabo de frenagem.

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