Tudo que é complicado de dia, só pode piorar no escuro. O GAE e os pousos noturnos a bordo.
...desde que eu acabei como um "administrador ad hoc" do grupo de veteranos do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, por obra do criador do grupo, o J. Vaz, eu comecei a guardar os relatos e memórias que apareciam por lá. Depois foram os grupos de Whatsap, e outras mídias. É em função disto que eu sei, por intermédio do Brigadeiro Assis, Cardeal 34, um dos "founding fathers" do Grupo, que o treinamento nos Estados Unidos não se deu de maneira completa. Os problemas políticos em Brasília durante 1961 forçaram o retorno do Grupo ao Brasil, sem que os Cardeais (voando P-16) e os Anujás (voando os helicópteros H-34) tivessem o treinamento para operações aéreas embarcadas à noite. A lástima para este artigo, é que eu não encontrei a transcrição desta declaração do Brigadeiro Assis, a quem recorro para as emendas ou correções que ele julgar necessárias.
De todas as formas, três anos após o primeiro embarque no Minas Gerais (22JUN65), em 1968, as limitações causadas pela falta de capacidade de operar a noite por certo já estavam exercendo alguma pressão principalmente quando em operações conjuntas com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), oportunidade de frequência anual, por conta das Operações UNITAS. É bom lembrar que no contexto da Defesa Hemisférica, conforme ditado pela Guerra Fria, a doutrina operacional da Marinha do Brasil, a quem o 1º GAE servia, era a mesma da US Navy. Doutrina e manuais de combate previam a condução de operações 24/7, portanto, sem interrupção por falta de luz do dia.
A ilha do Minas Gerais era orlada por "Flood Lights" âmbar/vermelhas, de intensidade controlável. Quando perto da ilha, aumentava o conforto para o taxi. Ou melhor: era menor o desconforto... |
O pouco que eu pude levantar sobre o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada e as operações aéreas embarcadas noturnas é que, na UNITAS IX, de 1968, o comandante do Grupo o T. Cel Thales de Almeida Cruz, Cardeal 76, realizou uma missão noturna junto do esquadrão VS-24, operando os mesmos S-2/P-16 (se bem que os americanos já operavam os modelos D/E), a bordo do USS Randolph. Pois em 16AGO68, ele próprio, o T. Cel Cruz, e o Maj. Iale, Cardeal 024, a bordo do P-16 7020, realizaram o primeiro pouso noturno da Unidade, a bordo do Minas Gerais, ainda que apenas em em caráter experimental. Não haverá de ofender o distinto leitor, saber que foi justamente na UNITAS IX, também, que a Embarcada voou pela primeira vez contra submarinos atômicos (o que começou a acender todas as luzes de aviso quanto à obsolescência dos nossos P-16!).
A partir daí, a verdade é que as operações noturnas acabaram por incorporar-se às práticas do 1º GpAvEmb. A continuidade e repetição transformou em rotina voar no escuro, confiando apenas nas luzinhas, como se pode depreender das fotos que acompanham este artigo. Eu mesmo, que cheguei na Embarcada sem pertencer ao Quadro de Tripulantes (QT), pois minha especialidade não tinha função a bordo dos P-16, acumulei, voando de "saco" (peso morto), um pouco mais de cinquenta ganchos (eu não tenho a contagem precisa), sendo que trinta e quatro (eu não sei porque eu tenho esta contagem precisa) foram noturnos. De fato, ao ter suas portas cerradas enquanto unidade aérea embarcada, em 1996, o GAE contava com 2.674 ganchos noturnos.
Mike Ray foi piloto de S-2 na US Navy, e escreveu um livro chamado "Stoof Driver", ele escreveu sobre o pouso a bordo noturno (e eu traduzi) à página 92: "[...] conforme cai a escuridão, a dificuldade da operação [embarcada] aumenta dramaticamente. Pessoalmente eu acho que o stress e o desafio da operação de pouso noturno excedia o que quer que nós fizéssemos numa 'missão' [...] Não importa o quão cansado tu estivesses no retorno ao navio, uma vez no tráfego [de recolhimento], o teu corpo te bombeava com um grande fluxo de adrenalina, e tu ficavas imediatamente em um nível muito alto de atenção. Era uma experiência verdadeiramente incrível."
Eu fiz esta imagem entre 5 e 7 de MAR96, no embarque 121, onde aparece a parte final do tráfego "Charlie" a rampa executada pelo P-16 até o gancho, e o seu movimento para a frente do navio. |
No mesmo embarque 121, a ilha fotografada com velocidade alta. |
Essas fotos noturnas são muito boas!
ResponderExcluir...só não são mais bonitas do que o espetáculo ao vivo. Mas fcam lindas, sim, Arthur...
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