Registros involuntários, o pouso na Lua, e eu...



...quem se aventura pelas trilhas excitantes da formação acadêmica em história acaba tropeçando em conceitos e formulações que ajudam a definir o seu campo. Pilhas deles. Um deles é o tal do registro, ou, documento "involuntário". Qualquer pessoa, intuitivamente, admite o poder dos documentos para se provar um fato qualquer; o brigadiano que te mandar encostar a moto não vai acreditar na tua palavra, de que o IPVA está pago. Não! Ele vai exigir que tu mostres o documento (que também é pago). "Documento" tem o caráter de "prova". O diabo é que qualquer documento, sempre, pode ser forjado, manipulado, ser transformado numa "fake news", sempre que os interesses e/ou poderes certos estejam em posição de fazê-lo. Quer governos, imprensa, ou, indivíduos. Quantas carteiras de motoristas são compradas, por aí...

É por isso que tanta gente acredita que o pouso na Lua é ficção: todos os documentos comprobatórios da aventura de 1969 foram fornecidos justamente pela NASA, o organismo oficial e interessado (entre outras coisas, nas verbas do Orçamento). Só ela estava em posição de produzir e divulgar documentos sobre o feito, sem contestação. Ninguém de fora da NASA poderia provar peremptoriamente nem que sim, nem que não. Ora, mas se um viajante intergaláctico viesse cruzando, descuidadamente, pelo nosso sistema solar em seu passeio de férias e tivesse assistido ao pouso da dupla Armstrong e Aldrin, ele poderia ter mencionado o fato em uma carta à sua tia predileta, enquanto lhe descrevia a sua viajem. Pois esta carta, caro leitor, seria a "testemunha" imparcial, desinteressada, sem parte com o lado dos que acreditam, nem com o dos que não acreditam (e nem com quem depende do orçamento americano), e teria provado que sim, houve um pouso na Lua. A carta seria o nosso "documento involuntário", a prova externa aos círculos de interesses envolvidos na divulgação original dos fatos, de que os homens visitaram, de fato o satélite do seu próprio planeta. O documento involuntário, fortuito, é, portanto, um dos grandes tesouros dos historiadores, porque documentos oficiais tendem a ser torcidos. Qualquer historiador que se prese sabe que o poder, mente.


Pois note o distinto leitor a foto acima. Eu QUIZ registrar o meu voo naquele dia (foi em algum momento entre 11 e 21 de outubro de 1993, o primeiro embarque depois da parada a que o Minas Gerais foi sujeito a partir de meados de 1991). Enquanto eu me dirigia para o avião, entreguei a minha máquina para algum amigo meu (não lembro quem), e ele fez o registro, de acordo com o MEU PROPÓSITO de salientar que eu, incontestavelmente, voava a partir de um porta-aviões, não em um aeroporto qualquer, em terra, como "qualquer mortal" (perdão a todos os aeronavegantes leitores, eu escrevi isto só pela piada). Não lembro se já era obrigatório aos tripulantes saírem das salas de brifim vestindo os capacetes, mas, mesmo que não fosse, eu tenho certeza de que eu o estaria vestindo, para mostrar aos que vissem a foto, a "malvadeza" dos caras que voam em porta-aviões (conforme aparece nos filmes). Coisa de guri exibido, bobalhão (alguns rebaixam os carros, e botam aparelhos de som potentes). Bem, a premissa básica aqui é que, quem bate uma foto, tem sempre seus interesses em relação ao que ela mostra ou sugere aos seus interlocutores.


Pois agora vejam, que coisa bem diferente acontece em fotos como esta, acima. Eu não sabia, não tinha como prever que seria fotografado. Não fiz pose, não penteei o cabelo, não me arrumei pra que as menininhas que vissem a foto, me achassem parecido com o Maverick, nem que os homens me invejassem. No entanto, a obra do Sargento Carlos Alberto, fotógrafo do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, naquele mesmo outubro de 1993, serve (sem que eu tenha tido a INTENÇÃO) para mostrar que eu realmente servia a bordo de porta-aviões, e que esta atividade tem mesmo, em si, os seus riscos (embora não signifique que as pessoas desempenhando suas atividades profissionais ali sejam, de fato, "malvadonas"; isso vai ficar por conta da imaginação do receptor da mensagem que a foto passa).



Bem, algum leitor mais assíduo já terá reparado que o assunto dos artigos do blog nunca é o seu autor. Desta vez, contudo, achei interessante, usando a introdução sobre documentos involuntários, compartilhar pequenas curiosidades que me envolvem, e que encontrei durante o longo processo de organização de tudo o que eu pude salvar do acervo do 1º GAE, após a sua extinção, e à desativação do 4º/7º GAv, a unidade que "herdou" o que não havia sido destinado à reciclagem de papel, anteriormente. 

De fato, o primeiro exemplo destas curiosidades, muito curiosamente, vem do mesmo embarque (OUT93) que as duas primeiras fotos que abriram o artigo. Das duas fotos acima, a preto e branco, eu encontrei entre as fotos ou negativos dos fotógrafos do Grupo, e deve ter sido feita, também, pelo Carlos Alberto, enquanto ele registrava as operações aéreas, se é que não estava registrando as minhas atividades como entusiasta/fotógrafo (brincadeira - se bem que por esta época, por ser um entusiasta, eu já tinha quebrado os pratos com um figurão nosso...). Seja como for, reparem que junto ao espelho de pouso, lá do outro lado do convés-de-voo, perto do nariz do 7034, apareço eu, apontando minha Zenith 11 para o avião. A foto colorida é uma das que eu estava tirando daquela posição, naquela mesma hora, embora apareça o 7032 e não o 7034. Eu creio que consigo identificar o Carlos Alberto lá na ilha, sob a estrutura das bandeiras, com o rosto semi encoberto, à ESQ do cavalheiro alto, de boné azul claro, indicando um dos nossos operadores eletrônicos.



Na sequência, a primeira das duas fotos acima eu fiz durante as cerimônias de travessia do Equador, no embarque que se estendeu até Pensacola, nos Estados Unidos, entre ABR-JUN96. Mulheres a bordo era uma raridade naqueles dias (as "princesas" da corte do Rei Netuno, dirigindo a cerimônia, são "fake", acreditem). Normalmente eram civis, engenheiras do Arsenal de Marinha ou outra entidade naval, desenvolvendo projetos a bordo do navio. Daí toda a atenção que mereciam (inclusive serem batizadas por "suas altezas reais"). Pois eu tirei a foto, e só fui me dar conta de que o Carlos Alberto estava atrás do "tonel sagrado" quando escaneei alguns negativos feitos por ele naquela viajem. É esta a imagem que vem em seguida, muito fotoxopada, pois os negativos estavam já completamente deteriorados, e as imagens saindo, todas, em mais do que cinquenta tons de verde. De qualquer maneira, aparecem, atrás da moça da ESQ, o meu chinelo Rider, e o calção preto do Grêmio, patrocinado pela Penalty naquela altura dos campeonatos. A minha Cannon T-60 fica só sugerida pela posição do meu braço direito.

Para encerrar essa carreira de coincidências fotográficas, seguem as duas fotos abaixo. Estávamos na pernada de retorno de Pensacola, em 1996, e eu estava acompanhando (ou fazendo parte, não lembro) a equipe de sobreaviso que estava atendendo ao guarnecer de um dos nossos aviões. Como sempre, o avião havia sido colocado pela "equipe de espotagem" a bombordo do convoo, já alinhado para a decolagem, e nós nos concentrávamos a boreste, prontos para intervir se ocorresse alguma pane, e fossemos chamados ao avião. Pois era daquela posição que eu estava fazendo bom uso de uma lente "zoom", tirando alguns closes dos homens que se movimentavam em torno do avião, inclusive do Valmir (na foto de baixo) com seu "head gear" conectado ao avião, ajudando os pilotos na partida e verificações pré-decolagem. Na mesma hora, lá do outro lado, a bombordo, o meu "grande irmão branco", o Leal, filmava o mesmo guarnecer. Ele registrou num mesmo plano, a ação do Valmir que eu fotografava, com a equipe de sobreaviso do outro lado do convés-de-voo. Eu estava olhando para vante, vestindo o macacão de voo azul, e o gorro vermelho que distinguia o pessoal da Seção de Armamento; dá pra ver que eu estava com a sacola fotográfica à tiracolo, e estava protegendo a câmera com as mãos (sempre muito vento e maresia sobre o convés-de-voo... como é que eu sei? eu estava lá; as fotos dos meus colegas, involuntariamente, provam!


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