Unidades aéreas e mortos-vivos.

 ...31JUL98 é uma data ruim para o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada. Foi o ápice de um processo iniciado lá pelo final de 1993. O Ministério da Aeronáutica havia decidido, e previsto desativar a frota de P-16, em DEZ96. Em Aviso de 27DEZ93 o Ministro da Aeronáutica comunicou o fato ao Ministro da Marinha. Claro, sem os P-16, sem operações aéreas embarcadas; fim da Embarcada.

Foto que eu tirei em JUN92, mostra o primeiro P-95A recebido, o 7057, Aparece o Sgt Gustavo, de macacão, ele próprio, veterano da Embarcada, ministrando a instrução. Reparem que o avião ainda está com o emblema da unidade de Floripa sob a janela do piloto, e o indefectível "7" na deriva.

Nada obstante, lá pelo meio de SET98, um oficial da Secretaria do Grupo entrou na Seção de Inteligência (S-2), onde eu era o encarregado da Subseção de Produção de Conhecimento, com um ofício do Centro de Documentação da FAB. Ele me perguntou se no S-2 sabíamos de alguma coisa a respeito do assunto do documento, que perguntava se já tínhamos desenhado o brasão da NOVA UNIDADE! Nova unidade!? A surpresa gerada pela pergunta em mim, estava no olhar do meu interlocutor, agitado, desorientado. Eu tentei xerocar o documento, mas ele não deixou - na verdade, eu já estava enfrentando problemas de convivência com aqueles oficiais pós-embarques (por infortúnio, aquele documento perdeu-se). De todos os modos, sem uma resposta, o dito oficial saiu porta afora. Não demorou muito, entretanto, veio à tona a informação de que o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, unidade aérea de combate de primeira linha, da Força Aérea Brasileira, estava extinta desde o último dia 31JUL! Éramos cadáver de quinze dias, e não sabíamos! Quem sabia (alguém devia saber!) não divulgou.

Foto que eu fiz em SET ou OUT96, quando o GAE recebeu o 7061, o último recebido, vindo direto do PAMA-AF. Eu lembro que o Martins (o bigodudo de frente para a câmera) foi o mecânico de voo, apesar de não estar de macacão de voo; coisa inusitada.

Pois bem, de fato, pela Portaria Ministerial R-452/GM3, o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada foi desativado. Eu lembro de ouvir num dia qualquer, na entrada do acesso à Sala de Estar dos SOs e Sgts, a melhor expressão do medo que aquele desfecho trazia para todos nós; o NOG, o Nogueira, o "mago" da Seção de Sistemas Elétricos vaticinou: "...vai virar 'força aérea'...". A bem da verdade, a unidade já era menos do que um zumbi desde a desativação dos P-16, o moral caiu, as pessoas pediam transferência, e os antigões, a alma da unidade, algo confusos com a situação inusitada, sentiam alguma coisa do seu mundo erodir. Mas, mesmo sem P-16, continuava-se a fazer voar, e voar, com a disciplina de quem tem um nome e uma reputação a zelar. De fato, durante o malfadado processo de revitalização dos P-16, ainda no início da década de 1990, a Embarcada recebeu alguns EMB-111 Bandeirulha (a "viatura", como alguns os diferenciavam dos P-16), para permitir alguma familiarização dos pilotos com os motores turboélices, que deveriam equipar os "Tracker" revitalizados.

Eu fiz este registro em 24JUL97, durante exercícios no trecho Rio/Floripa, com dois aviões envolvidos já em ala, e voando para Florianópolis. O 7056 está nas cores completas do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada: brasão da unidade na empenagem e a bolacha do 1º/1º Gp Av Emb sob a janela do copiloto.

Pois como a revitalização não vingou, de "auxílio à instrução", os P-95A passaram à condição de montaria oficial do 1º Gp Av Emb, e foram estes aviões que foram herdados pelo 4º/7º Grupo de Aviação; inclusive os dois veteranos da Guerra das Malvinas, os 7060 e 7056. O 7050 foi nosso, também, e está no MUSAL, não sei com que acabamento. De certo, mesmo, em 31JUL98 acabaram com a Embarcada e, enquanto isso, no interior do hangar em SC, os nossos poderosos Grumman já acumulavam poeira de um ano e meio sobre suas asas dobradas, neste dolorido voo para o nunca-mais.

Foto minha, também, de 17ABR97. Os P-16 aguardando seus destinos dentro do grande hangar do Zeppelin. O 7036, o protótipo da revitalização, com seus motores turboélices, é o mais distante da câmera. reparem que os outros aviões estão sem seus porta-bombas, pois os itens reparáveis do projeto foram todos recolhidos ao PAMA-SP, para alienação.






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