...sobre precedências, ou, "A nêga é minha, ninguém tasca eu vi primeiro!"...
...os tempos são de negação do que é natural, do que é real e, até mesmo, do que é empírico. Mas, independentemente das "crenças" da moda, lá no Século XIX a humanidade já podia estruturar um arrazoado sobre as suas motivações básicas; aí despontavam o sexo e a agressão. Pois bem, no que diz respeito ao encadeamento das manifestações históricas referentes à esta violência, intrínseca à existência humana, nós podemos encontrar que, em 24 de julho de 1943, os homens usaram CHAFF pela primeira vez em combate.
O Chaff, a rigor, é composto por partículas metalizadas que, por terem a propriedade de refletir as ondas de radar para todos os lados uma vez espalhadas no ar, impedem que o aparelho de detecção receba um eco dos alvos que pretende revelar. Os radares de defesa, portanto, sejam de busca aérea, ou, controle de tiro, podem ser, virtualmente, eliminados. Pois bem, no final de ABR95, ou, início de MAI95, o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE) realizou o primeiro lançamento de Chaff no âmbito da Força Aérea Brasileira. Na verdade, o 1º GAE estava à beira da extinção, uma vez que a desativação dos P-16 estava prevista para DEZ96. Naquele contexto o comando do Grupo se debatia (e eu diria, heroicamente) contra as autoridades do então Ministério da Aeronáutica (MAer), buscando reverter aquela decisão. O T.Cel. Souza Lima, o comandante do Grupo, com alguma participação de ex-integrantes da Embarcada que ocupavam postos de chefia na estrutura do MAer, enfrentava continuados fracassos nas suas tentativas de insistir na revitalização dos aviões. Tudo debalde. Nada obstante, o inconformado comandante, contando com os parcos recursos disponíveis (o Grupo já não recebia mais suprimentos, por exemplo, salvo o que pudesse afetar diretamente a segurança de voo), negou-se sempre a entregar os pontos. Escarafunchava maneiras de ampliar e dar relevância ao leque operacional dos nossos aviões. Pilotos e manutenção eram surpreendidos, vez após vez, entrando em campos absolutamente desconhecidos, conforme o comandante solicitava que se desenvolvessem alguns projetos inusitados. Chaff, GPS e Data Link embarcados nos rijos Trakers, são exemplos deste esforço.
Pois, então, foi assim que a Embarcada entrou em contato com o Chaff. Eu servia na Seção de Armamento, então, e conforme vinham as ordens do comando: "quero experimentar isto", ali, inventávamos tudo com o objetivo de aumentar as capacidades dos P-16 no que dissesse respeito a este particular da Guerra Eletrônica. A ideia iria fazê-los aviões com a capacidade de interferir nas emissões de radar inimigas. Neste desiderato, de acordo com as melhores tradições de inventividade que caracteriza quem lida com a escassez, cortamos ao meio, no sentido longitudinal, alguns invólucros de motor-foguete SBAT-70, para que servissem de "casulos" para o Chaff, propriamente (foto acima). Com os dados dos radares das fragatas Niterói como parâmetro para a primeira experiência, requisitamos todas as tesouras da unidade e nos pusemos a cortar os rolos de Chaff, com a precisão possível (foto abaixo), na medida requerida para impedir que as fragatas pudessem defender-se de caças atacantes, durante um exercício.
Muitas bolhas pelos dedos depois, enchemos os tubos cortados com a fibra metálica e os colocamos nos tubos (chutes) das boias-radiosônicas, à ré das naceles dos motores dos P-16. Dali os tubos podiam ser liberados na corrente de ar pelo piloto, de acordo com as circunstâncias do "combate". Evidentemente, este "monstro" merecia um nome científico, e foi propriamente batizado de "Katrapus".
Contudo, aconteceu que, coisa de um mês depois, um relatório de um exercício da Aviação de Caça alcançou o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, em São José dos Campos, comemorando "...a primeira vez que uma aeronave de combate brasileira efetua o lançamento de 'chaff"...". Pois bem, para sorte da História, a autoridade que leu este relatório do exercício da Aviação de Caça no DEPED, era ele próprio um antigo membro do GAE (Uma vez que não pedi permissão a esta autoridade para citar o seu nome, me reservo o dever de não citá-lo, e omitir sua assinatura do documento). E foi ele que, algo contrariado em seus brios de Cardeal, diante da precedência "usurpada" da "sua" unidade, encaminhou o manuscrito que aparece na última foto, até o comandante da unidade de Caça envolvida.
De qualquer maneira, do ponto de vista da história, a discussão deste caso é só um destes "rodapés" pitorescos, mas que nem por isso podem deixar de ser contados e preservados...
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