...de quando a Embarcada já não embarcava...

...em 27JUL97; era o final de um voo entre a Base Aérea de Santa Cruz e a Base Aérea de Florianópolis, onde o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada estava deslocado. Neste voo (eu, voando na função de fotógrafo), um P-95A da unidade cumpriu duas missões diferentes. A primeira, aproveitando o deslocamento em direção ao Sul, foi a realização de uma Operação Atlântico, quando o avião de Patrulha faz uma verificação visual, fotográfica e via fonia, de todo o tráfego marítimo encontrado, visando identificar alguma presença ilícita em águas territoriais.

Sombra do meu P-95, projetada sobre a superfície do oceano, desde 1000ft (mil pés) acima do nível do mar.

O Primeiro Grupo de Aviação Embarcada era o primo pobre da comunidade de operadores de P-95 da FAB. Levou anos para recebermos máquinas fotográficas apropriadas para as operações. Na falta delas, a arma que os tripulantes qualificados para voar como fotógrafos da unidade esgrimiam, era a "trambolhosa" Aeroteknica, conforme aparece sobre a almofada do "cagonauta" (o fotógrafo ocupava o assento que podia ser usado como vaso sanitário, numa emergência, durante o voo) com seu avançadíssimo visor "ring & bead", e uns 347,7 quilos de peso... e tudo em P&B...

Uma parte importante da Operação Atlântico era a passagem baixa, transversal ao sentido de deslocamento dos navios , e à ré destes, quando se fotografava (para a eventualidade de uma ação legal contra o navio) o nome e o porto da embarcação. Uns dias antes da missão relatada, numa outra Operação Atlântico, eu fotografei um navio com o nome da rua onde nasci, em Porto Alegre (em Porto Rico, eu fotografei uma lancha com o nome de um cachorro que eu tive: "Chubasco").

Ao final deste voo, se não me falha a memória (esta mesma que não me permite lembrar da matrícula do avião no qual eu estava), ganhamos altura, até 10.000ft, para executar uma missão de PDATAR (Posto Diretor Aerotático no Ar), dirigindo um outro P-95 do Grupo, num ataque simulado a alvos navais indicados por nós. Este outro avião, o 7056, não lembro se decolara de Floripa, ou, se vinha de um outro ponto que não o solo catarinense. Seja como for, cumpridos os protocolos previstos, nos reunimos num imprevisto voo de formatura, que se seguiu à reunião dos aviões, tão logo o 7056 abandonou o nível do mar e subiu até nós... e esta exibição deu de cheio na hélice do ventilador! ...espalhando "barro" pela Base Aérea de Florianópolis.



 




Ora, havia menos de seis meses que a Embarcada fora privada dos seus P-16; eram tempos confusos, se é que não podemos chamá-los de sombrios. Tempos de mudanças na doutrina, nos procedimentos, na cultura, na motivação, no pessoal... no avião... Nem todos tinham as qualificações requeridas para todos os aspectos do voo; os pilotos veteranos guardavam cacoetes do P-16, que não podiam ser replicados nos P-95... a "viatura" (como desdenhosamente disse alguém, comparando-a indevidamente com os aviões da Grumman)! Que ninguém se iluda, contudo, o P-95 é um BAITA avião! Por óbvio, que quaisquer limitações operacionais que ele tenha, não são culpa dele. Excelente e rijo avião! Seja como for, e preocupações com regulamento e Segurança de Voo de parte, naquela hora de certo assombro, como eu não tinha nada melhor para fazer naquela fase do voo, pus a minha máquina fotográfica pessoal para funcionar; fiquei fotografando o nosso parceiro de formação...



E foi assim que chegamos, vistosamente, sobre a base de Floripa, ao final de uma longa manhã no ar. Executamos passagens baixas, e após o "peel off" de cabeceira dos dois P-95 (!!), o comando do Grupo, e o da Base, esperavam pelas tripulações no pátio de estacionamento. E aí foi só pena voando... ou, barro. Se fossemos entrevistar as tripulações, as autoridades, colhendo informações e impressões, só esta missão, renderia um lindo livro.


   
À ESQ da foto, se identificam os contornos afilados das naceles dos motores turboélices, que só o 7036 recebeu, tristemente. Ao seu lado, as formas originais, ainda que descarenados, do 7032. Este avião faz parte de um monumento à Embarcada, lá mesmo em Santa Cruz. O 7036 foi exportado para os EEUU, e não se conhece seu paradeiro.

Enquanto isso, lá em santa Cruz, nossos lindos P-16 jaziam adormecidos em sonhos de revitalização, que nunca se realizaram; aguardavam seus destinos no interior do gigantesco hangar de outras máquinas de voar, já há muito extintas... Todas as fotos são minhas, de JUL97...

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