Sobre estar preparado. O que o Minas Gerais nos ensinava.



...tu estavas ali, cumprindo as tuas rotinas de bordo e, de repente, estalava no sistema de fonoclamas:

"MINAS GERAIS!... isto é um exercício! 'Crash' (créch) no convoo, incêndio em Pedro, Spot Dois! Guarnecer postos de combate!"...


E ao som do "Alarma Geral", um lúgubre e metálico balido, como um BÊÊ-BÊÊ-BÊÊ, o interior do navio todo se movimentava, correndo todos para os seus respectivos postos de combate, não importando onde estivessem, era preciso movimentar-se no sentido anti-horário pelos corredores (considerando a proa 12h), descendo só pelas escadas de bombordo, e subindo só pelas de boreste (para evitar afunilamentos). Quem estava no convés de voo, por sua vez, ouvia uma sirena aguda, bem mais curta e mais repetitiva do que as de um carro de bombeiros, e também, largava tudo o mais que estivesse fazendo, e atendia ao Contra-Mestre no convoo, aos oficiais de serviço ali, ou quem por primeiro começasse a organizar o combate às "chamas", e o "resgate" da tripulação "sinistrada".




Do pessoal da Primeiro Grupo de Aviação Embarcada era cobrada a mesma iniciativa, como de qualquer outro membro da tripulação. A prioridade era o guarnecimento das linhas de água e espuma. Alguns guarneciam as linhas principais, atacando o "fogo", propriamente dito, e cobrindo as equipes de resgate, com suas roupas de asbesto, responsáveis por extrair os tripulantes da "fogueira". Dá-se prioridade à espuma, porque ao se usar água, o combustível inflamado tende a flutuar SOBRE a lâmina d´água que se forma sobre o convés, por ser menos denso; decorre daí, que a água acaba dando uma carona pro fogo, conforme ela escoa pelo convés, que oscila em torno dos eixos longitudinal e transversal (balanço e caturro, respectivamente)... com água, a coisa toda pode virar uma trapalhada.




Com as linhas principais guarnecidas, entram em ação as equipes com aqueles tubulações rígidas,  como que bastões de "Hockey", projetadas para borrifar água sobre as equipes envolvidas com as linhas principais, que vão mais perto do "fogo", e precisam ser resfriadas, protegendo-as da exposição ao calor. Contudo, mesmo com o resfriamento das linhas principais, o primeiro homem, o mais perto do fogo, era sempre trocado, em função deste mesmo objetivo, evitar a exposição prolongada ao calor. Transcorridos poucos minutos, o encarregado de uma determinada equipe gritava: "REVEZA!", e o homem da ponta cedia o posto ao homem que estivesse logo atrás dele. Desta maneira, ninguém se prejudica demais. Tudo correndo bem com o exercício, equipes estabelecidas e trabalhando em conjunto, lá pelas tantas o coordenador do exercício gritava pelo fonoclama: "EXPLOSÃO!"




Todos se atiravam ao chão, como se estivessem se protegendo dos estilhaços lançados ao ar por uma deflagração de verdade. Enquanto estavam deitados, alguns homens recebiam dos instrutores, marcações "morto", ou, "ferido". Era a deixa para que as equipes de resgate e saúde entrassem em cena, retirando os "cadáveres" e "feridos" para o hospital, lá nas entranhas do navio, abaixo do convés do hangar. 

Visto assim (se bem que às vezes, também pra nós, lá) a coisa pode até parecer pueril. Até irritante, porque este tipo de exercício, assim como todo o tipo de emergências, eram uma constante. Dependendo do embarque, podia se repetir muitas vezes ao dia. Mas é como diz o ditado, tu lutas como tu treinas, e às vezes, como mostram a primeira e a última foto, sem aviso, as coisas podiam ficar bem feias; sempre tinha o dia em que o fonoclama alertava: "Minas Gerais! Isto NÂO É UM EXERCÍCIO...", e aí, era muito bom estar bem preparado. Pessoalmente, eu experimentei dois incêndios a bordo, e num deles, à noite, eu guarneci uma linha de resfriamento...



As imagens do Exercício de Crash no Convoo, com o helicóptero, foram escaneadas de diapositivos encontrados em caixas de slides, usados em aulas para os membros da unidadade, conforme eu já publiquei aqui, em outra oportunidade. Por isso, não tenho data nem autor das imagens. A primeira foto, a P&B, é do Sargento J. Cruz, de 06MAR88, quando perdemos o P-16E 7031. A foto do resfriamento da chaminé do Minas Gerais, eu fiz entre os dias 10 e 17JAN91. Também não era um exercício...

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