Dizem que a história se repete... Talvez não seja "História", seja "Cultura"...




...a partir de SET60, uma parte do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada foi-se para os EEUU em busca do treinamento e das qualificações necessários para que a unidade recebesse, e fosse capaz de operar eficientemente, os P-16 e H-34 cedidos ao Brasil pelo governo dos Estados Unidos, através do seu Programa de Assistência e Defesa Mútua (MDAP, em inglês). A contrapartida brasileira por aqueles aviões e helicópteros foi a concessão da franquia aos norte-americanos, para que utilizasse alguma parte do território brasileiro para os seus fins, em Fernando de Noronha, para ser exato (o Acordo de Fernando de Noronha, de JAN57). Eu desconheço o desenvolvimento daquelas negociações, principalmente no que diz respeito à definição dos aviões e helicópteros do 1º GAE, mas o certo é que em JAN57, nem o 1º GpAvEmb havia sido criado, e muito menos se havia decidido que tipo de aeronave a unidade operaria. De fato, dois meses depois, em MAR57 (cinco semanas após a criação do Grupo), o então Coronel Deoclécio Lima de Siqueira, o "especialista" do Ministério da Aeronáutica para as questões envolvendo porta-aviões e seus aviões, oferecia suas primeiras impressões ao seu ministro, a respeito das máquinas que poderiam compor o Grupo Aéreo do porta-aviões brasileiro.



É preciso registrar, que as aspas que usei em "especialista", não implicam em nenhum menoscabo ao fino e incansável oficial da Força Aérea Brasileira, a quem entrevistei pessoalmente. Foi o próprio Brigadeiro Deoclécio (que gentilmente autografou-me um dos seus livros, que levei comigo) quem brincou com a sua condição de "expert" (usou exatamente este termo) em porta-aviões, em virtude de ter sido indicado para assessorar ao Ministro da Aeronáutica após a compra do Minas Gerais, simplesmente porque alguém lembrou que ele havia feito uma monografia sobre a batalha de Midway, durante o seu curso de comando e estado-maior! De qualquer maneira, o Cel.Deoclécio informou ao seu ministro que já se havia voado o Fairey Gannet, e o de Havilland Sea Venom, ambos aviões embarcados ingleses. O Gannet, era o avião que realizava as missões anti-submarino na Royal Navy. "Sem dúvida, todos os dois são bons aviões que se prestam muito bem para o nosso caso. São mais leves, mais econômicos e provavelmente mais fáceis do que os similares americanos" (Relatório encaminhado em 17MAR57, ao Chefe do Gabinete do Ministro da Aeronáutica)

As duas fotos anteriores, acima, mostram os caras sendo retirados da água. Esta aqui mostra COMO eles chegavam lá. Reparem no que está pendurado no guindaste...



Seja como for, pelo final de 1960 já estava assentado que o Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada operaria aviões S2F-1 (P-16, no Brasil) e o seu Segundo Esquadrão voaria os helicópteros HSS-1 (H-34, para a FAB). E tudo aquilo era um salto tecnológico e operacional difícil de descrever, uma vez que a FAB deixara à decadência, sem substituição, aviões, equipamentos e dutrinas herdadas dos Estados Unidos, após Segunda Guerra Mundial. A Aviação de Patrulha, até DEZ58, com a chegada dos subequipados P-15, para todos os efeitos práticos, inexistia, a despeito de tudo o que se construíra há meros treze anos, em 1945. Agora, por força dos avanços da Marinha sobre o terreno da "Aeronáutica", os homens do 1º GpAvEmb iriam carregar os fardos de construir a Aviação de Patrulha na FAB. Mais significativo, contudo, iriam trazer para o Brasil, pela primeira vez, o mundo do combate da Guerra Fria. Tudo foi revolucionário, numa escala tecnológica, operacional e doutrinária, muito maior, mesmo, às experiências do 1º Gp. Av, de Caça no seio da aviação do Exército Norte Americano, na década de 1940, que o habilitou a combater junto com os aviadores do Exército Americano, contra os alemães. Mas isso é assunto para outras charlas. Aqui aparecem fragmentos daquela experiência nos Estados Unidos: cursos de sobrevivência no mar, de abandono de aeronaves submersas no "Dilbert Dunker" (o GAE só voltou a praticar este exercício, no início da década de 1990, nas instalações da UTEPAS, da Marinha do Brasil). 

 



 



Curioso como possa parecer, aparece um registro dos embarques de instrução em submarinos, enquanto estes eram 'caçados' pelas tripulações aéreas em treinamento. Na moldura do slide em que aparece a proa de um submarino singrando, está escrito "USS Picuda" e os nomes: Frias e Pinheiro, indicando os pilotos que devem ter feito aquele 'passeio'. Segundo o então Tenente Assis (hoje, o homem no comando dos Cardeais), o navio que mais servia aos iniciantes brasileiros em treinamento, era o USS Barbel, uma nave experimental que, mesmo sendo de propulsão convencional, teimava em driblar os aviões que o caçavam, quer brasileiros, quer americanos.




Depois de 1996, contudo, com a desativação do Grupo, tudo este esforço, como aconteceu no final da Campanha do Atlântico, foi destruído; se perdeu, por sua vez. O Brasil ficou uns bons 20 anos sem a capacidade de se proteger contra submarinos, usando os braços longos, que provem defesa em profundidade, que só os aviões proporcionam. Até que tudo fosse montado, de novo, até onde as contenções orçamentárias permitiram, usando-se os P-3. Uma cultura, sem dúvida. Todas estas imagens, eu escaneei de slides encontrados em circunstâncias já descritas em uma outra postagem... não acreditem em "lixo"...

Comentários

  1. É interessante mencionar que a classe Barbel (SS-580) Foi o primeiro submarino convencional com o casco com o desenho "em gota", utilizado até hoje por ser mais eficiente no regime de navegação submerso. Portanto, era mesmo difícil de ser detectado por ser muito silencioso.

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