Se tu acreditas que se luta conforme se treina... não existe espaço para "treino em meio turno".
...o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada entre JUL/AGO86, andou afiando suas habilidade nas operações aéreas a bordo do porta-aviões Minas Gerais. Era um embarque operacional, com o lançamento de munição viva, e que visitou os portos de Salvador e Recife. As habilidades necessárias a uma unidade aérea deste tipo, claro, não tem a ver com a manutenção das habilidades dos pilotos e demais tripulantes aéreos, somente; senão que com a da unidade como um todo.
Desde o planejamento logístico, previamente ao embarque, fazendo com que estivessem a bordo, operando e disponíveis, o ferramental, as publicações, o suprimento, o armamento, e quaisquer insumos necessários á operação segura e eficaz dos aviões. Também os homens da administração, os organizadores dos trabalhos burocráticos, os regentes da sinfonia, que através do trabalho da Ajudância (que, maldosamente, ao menor problema, chamávamos de "Atrapalhância"!) indicavam até em que cama se haveria de dormir. Estes "boinas-rosas" (outra maldade, para chamá-los de "secretárias"), pelas mãos de quem todo e cada documento datilographado era gerado (inclusive os salvadores pedidos de banhos extras), tinham necessidade de conhecer e percorrer os caminhos da administração do navio, da redação de documentos de acordo com as normas da Marinha, como um todo. E isso sem mencionar que ao mesmo tempo, todo o trabalho está sendo duplicado, porque a própria administração da Força Aérea precisava ser satisfeita nas suas exigências de registro e controle. O GAE e sua ubiquidade; ele "acontecia" em dois mundos: no da Força Aérea, e no da Marinha!
Da mesma sorte, ocorria com o pessoal da Seção de Operações, do Material, etc; às vezes, tinham a obrigação de passar seus rádios diários aos órgãos de controle da FAB, mas esbarravam no fato de que na maioria dos casos, um Grupo-Tarefa naval opera em estrito silêncio rádio! A vida dos homens da Embarcada nunca foi fácil (como a vida do marisco)... e havia, claro, a Manutenção. Trabalhar a bordo, com as suas rotinas inerentes (inclusive a de banhos!), de maneira a que nunca faltassem, que não fosse por força maior, aviões prontos para dar cabo de qualquer missão atribuída.
Não havia embarques "inocentes", portanto. Tudo visava o bem cumprir das nossa missão precípua: caçar submarinos que pudessem ser hostis aos interesses brasileiros, de noite e de dia, a partir de um porta-aviões. Cada embarque deveria servir, sempre, para azeitar essa complexidade toda. Mas, há mais: para além de tudo isso, por ser uma unidade aérea embarcada de asas-fixas, o 1º GpAvEmb precisava concorrer para a formação e manutenção operacional de um grupo tão exclusivo quanto raro de profissionais: os Oficiais Sinalizadores de Pouso (OSP).
Estes, eram pilotos da unidade, treinados em cursos específicos, junto à Marinha dos estados Unidos, para orientar o desempenho dos seus colegas durante a execução das suas aproximações, durante as operações de recolhimento (pouso) a bordo. Era da sua obrigação influir afirmativamente para que aquelas operações transcorressem seguras e dentro dos parâmetros operacionais desejados. Notem nas fotos abaixo, alguns dos OSPs da unidade, guarnecendo a sua plataforma, localizada à ré do convés de voo, à bombordo. Esta plataforma dos OSP estava sempre guarnecida por uma proteção de lona (Além do quebra-vento, todo perfurado, no plano vertical), que formava um funil, destinado a despejar algum desafortunado que caísse da plataforma para bombordo, diretamente sobre o convés aberto da popa, a 'popinha', percorrendo uma espécie de tobogã. Claro, além de evitar um mergulho de dez metros de altura, quem não temeria ser apanhado pelo hélice ("hélice", no jargão naval, é sinônimo masculino) de bombordo? Nestas fotos também se nota a manopla do MOVLAS, um sistema de orientação ótico, móvel, para auxiliar a aproximação dos pilotos, durante o pouso. O Minas tinha alguns problemas com o seu espelho de pouso, que não permitiam seu posicionamento angular, de maneira que garantisse uma separação mínima entre o gancho de parada de um avião pousando, e o início do convés de voo. Algumas vezes, embora eu desconheça as causas da sua aplicação aqui, se operacionais ou instrucionais, a MB disponibilizava o sistema móvel alternativo. Um registro raro deste equipamento.
Da ESQ para a DIR: Major Souza Lima, Tenentes Barreira e Cavalcanti. Entre os dois primeiros, os controles do MOVLAS, sobre seu pedestal. Reparem no funil de lona, orlando a plataforma. |
As duas fotos acima não são registros da mesma ocasião. A colorida, eu adicionei, para salientar a aparência do MOVLAS, quando empregado no convés de voo. Ele é o objeto cruciforme, bem junto do poste de sustentação da barreira de emergência, na borda do convés, a bombordo, antes do Espelho de pouso, propriamente dito. Na foto de 1986, em P&B, o equipamento aparece quase indiscernível, sob a "barriga" do UP-16A 7023. À exceção das fotos coloridas, e a do documento datilografado, todas as fotos são do então sargento Cinello, fotógrafo do Grupo, que aparece, numa foto esquisitíssima, com olhos semicerrados e braços alheios flutuando ao léu, em JUL/AGO86...
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