Quase um "pato (da água) fora d´água"...


...o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada foi criado pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) com um caráter político-institucional muito claro: impedir que a Marinha tivesse aviação própria. Claro, havia toda uma argumentação jurídica/doutrinária em torno do problema, mas é certo que o MAer tinha os olhos bem postos, também, sobre a preservação dos seus nacos do Orçamento "[...]evitando uma possível diminuição do potencial da FAB ou o cerceamento de seu desenvolvimento" (Estudo sobre os problemas da cooperação aeronaval, de OUT57). 



A criação do 1º GpAvEmb não atendia, portanto, a nenhum planejamento prévio das chefias do MAer, quer de caráter estratégico, doutrinário, ou, operacional, como se pode depreender a partir do Plano de Desenvolvimento da FAB, de JUN56 (o 1º GpAvEmb foi criado em FEV57), e da virtual inexistência da Aviação de Patrulha, em meados dos 1950. Nada obstante, sua criação significou um descolamento doutrinário e institucional que permeou a relação da unidade com a própria FAB, uma vez que qualquer atividade operacional de uma unidade aérea baseada em porta-aviões é, por lógico, uma atividade atinente ao teatro de operações marítimo; um universo descolado das preocupações cotidianas do MAer. De fato, a Embarcada foi formada sob a batuta doutrinária, operacional e material da Marinha dos Estados Unidos (USN), para servir sob controle operacional e administrativo da Marinha do Brasil (MB), quando a bordo do Minas Gerais. E, mesmo quando operando de terra, seguindo os planejamentos operacionais da Força Aérea, a doutrina de emprego era a da USN/MB, porque outra não havia.



Em vista disto tudo (e muito mais) havia enormes dificuldades de interlocução com as chefias da FAB em relação às necessidades que o GAE identificava como relevantes. A infraestrutura necessária à guerra anti-submarino, que os homens do GAE encontravam nos contatos com a USN, em muito excedia a mera existência de aviões devotados para a missão que, a rigor, era o que estava a disposição dos homens da Embarcada. O senso profissional dos seus integrantes, em geral (através dos anos), os colocaram em longas campanhas de convencimento das autoridades sobre a importância da aquisição deste, ou, daquele equipamento, como o gravador de dados acústicos mais apropriado para os P-16E, por exemplo; "Recebemos esta semana um pedido do COMAM (Comando de Material, responsável pela aquisição de material da FAB) de PORQUE (grifo meu) nós desejamos um gravador no S-2E. A guerra vai começar toda de novo, pelo jeito". suspirava o Cap. Dominguez, do 1º GpAvEmb, em carta de 03ABR76. O próprio processo de aquisição dos P-16E, chegados em 1975/76, serve de exemplo. Nele aparecem gestões a favor de itens, que sofreram com todo tipo de dilações, incompreensões e, mesmo, pura má vontade.


Foi o caso dos simuladores de missão 14B30 e 14B35, equipamentos de instrução/simulação de missão que, além de agilizar tremendamente a formação de pessoal de voo, representava a economia de zilhões de dinheiros gastos em horas de voo, e emprego de submarinos para a instrução. Estes equipamentos, só puderam ser inaugurados em FEV80, conforme mostram as fotos, onde aparecem os dois técnicos civis norte-americanos, que os vieram instalar; este momento auspicioso ocorreu mais de quatro anos depois da chegada dos P-16E. Outros itens, contudo, nunca chegaram, como acabou sendo o caso dos tais gravadores acústicos, substituídos por um modelo muito menos capaz e útil, bem como as cabeças de guerra para os torpedos Mk-44, por exemplo. 



As cartas do Cap Dominguez (o cavalheiro sentado sobre a mesa, já usando as platinas de Major, na última foto), enviadas acima e abaixo da cadeia de comando, buscando aprovação e apoios para as melhores opções de compras de equipamentos para a unidade, são um monumento à honestidade de propósito, tenacidade e senso profissional dos homens da Embarcada. As imagens da inauguração dos 14B30 e 14B35 foram obtidas escaneando os negativos que resgatei das "limpezas" pós-desativação da unidade.A foto do P-16 sobrevoando o marcador fumígeno, veio de um diapositivo, também resgatado, conforme venho descrevendo aqui, em publicações anteriores. Não tenho informações sobre quem foram os fotógrafos...

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