Olhos sobre as caudas dos P-16.

O protótipo dos P-16 turboélice, o 7036, no momento em que recebeu sua nova designação, passando de P-16E para P-16H. Ele foi, por ter ido para o Canadá, receber os novos motores e hélices, o último P-16 com a cauda verde (o "Rudder Trimmer") e amarela (o "Rudder"). Reparem, sob o profundor, a carenagem do atuador do "Rudder Trimmer", presente apenas no lado ESQ dos aviões. Foto que eu fiz, entre FEV/ABR91.

...recém completados 37 anos, em MAR83 o então Sargento Cinello, fotógrafo do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, registrou o resultado de um choque entre o P-16A 7023 e um trator, na Base Aérea de Santa Cruz. A "pechada", como se diz no linguajar pampeano, danificou a carenagem de fibra da Cabeça Detectora, do Detector de Anomalias Magnéticas (DAM; MAD, em inglês) do avião.


A carenagem da Cabeça Detectora do DAM do 7023, entre o conjunto do leme (visível a luz de posição, âmbar) e o gancho de pouso. A luz branca, de navegação, ficava acima da luz de posição, o que aparece com clareza na próxima foto.
A referência ao DAM, contudo, vai servir apenas para chamar a atenção do caro leitor para o fato deste equipamento, quando recolhido, estar alojado sob as grandes superfícies de comando da empenagem vertical. Elas são reconhecíveis no antigo padrão de pintura dos P-16, com a clássica pintura verde-amarela, prontamente discernível, mesmo nas fotos P&B.


O DAM (MAD) só era usado em voo, na fase final de uma caçada a um submarino submerso. Era este equipamento que permitia precisar a localização daqueles barcos, permitindo a melhor probabilidade de lançamento dos torpedos autoguiados, aumentando-lhes as chances de destruição do alvo. Na verdade, o 1º GpAvEmb nunca conseguiu que a FAB adquirisse as cabeças de guerra para os torpedos MK-44, tendo sempre dependido da Marinha, para qualquer eventualidade.

Nos Grumman S-2 (chamados P-16 no Brasil) o leme de direção propriamente dito, o "Rudder", em inglês, consistia da superfície pintada de amarelo (a parte clara). A seção verde (escura), na verdade, era um enorme compensador do leme, o "Rudder Trimmer", acionado por um sistema eletro-hidráulico, com seu atuador colocado sob uma carenagem proeminente, no lado ESQ da deriva. O funcionamento deste conjunto foi bolado para, não só diminuir o esforço físico da tripulação na eventualidade um voo monomotor, abaixo de 120 kt, mas, também, garantir o controle do avião nas aproximações e pousos a bordo sob tal condição.

Um S-2A da VS-30, a unidade da USN encarregada do treinamento das tripulações de S-2, antes que elas chegassem aos esquadrões operacionais. Por isso que o fato de o avião estar com o M1 parado, sua hélice embandeirada, e o "Rudder Trimmer" posto em ação junto com o leme, fletidos para a DIR, devem indicar, apenas, um voo de treinamento, e não necessariamente uma emergência. É verdade que o ângulo do avião na foto, esconde o movimento do conjunto. A foto veio da revista Approach, de setembro de 1965.

Claro, o pouso a bordo de um porta-aviões é, sempre, muito mais restrito e estrito do que os pousos convencionais, em terra e, principalmente, numa situação anormal como um voo monomotor. Nestes casos, o piloto deve receber toda a ajuda possível para controlar o avião, e coloca-lo com segurança sobre a área dos cabos de parada. E os P-16, de fato, ofereciam as qualidades de controle, mesmo monomotor, que as suas tripulações em emergências, requeriam. É o que lembrou o hoje Coronel Walkyr, na página dos veteranos, no FB, quando experimentou...

"...um monomotor na arremetida de um "bolter" noturno [O "bolter" é a situação na qual o avião não engancha em nenhum dos cabos de parada do convés de voo, e é obrigada a arremeter, recuperar a condição de voo, para não cair na água]. Em todas as ocasiões, jamais perdi a confiança na máquina antiga, mas bem mantida. Confiei em cada sistema dos nossos P-16 A/E em cada uma das minhas 2.000:00 horas voadas na Embarcada."

A
Embarcada, contudo, perdeu o 7017 em MAI88, mas devido ao funcionamento defeituoso do atuador deste mesmo "Rudder Trimmer", que entrou em funcionamento inadvertidamente, por uma falha na remontagem daquele item, durante sua última revisão: "O ítem [...] não atendeu aos requisitos de inspeção da T.O podendo ter sido um dos possíveis causadores do acidente" disse um Relatório Técnico pós acidente. A falha ocorreu durante a decolagem do avião de Salvador. O efeito aerodinâmico sobre o avião, com "Full Power", o fez fugir das possibilidades dos pilotos controla-lo, e ele desmantelou-se espetacularmente, sem perda de vidas, contudo, o que é um monumento aos nossos poderosos e grandemente confiáveis aviões.

O estado em que terminou o 7017, em Salvador. Reparem num dos profundores, alinhado com o que seria a cabine dos pilotos. Foto cedida pelo veterano da unidade, o então Capitão Mounir, oficial de Segurança de Voo do GAE. Das sete pessoas a bordo, apenas o piloto em comando, o Tenente Sade, feriu-se com gravidade. Os demais saíram caminhando dali.


Na grande cauda dos P-16, tudo foi pensado para garantir o retorno seguro do avião aos seus porta-aviões. Reparem que o "Rudder Trimmer" e o próprio "Rudder", o leme, foram retirados do 7032. Reparem que o alojamento do atuador do "Rudder Trimmer" também foi retitrada, expondo o equipamento, sob o profundor. Foto minha, tirada entre JUN/JUL91.

O "Rudder Trimmer" e o "Rudder" (leme direcional) pendendo da grande talha que a Embarcada operava. Da ESQ para a DIR aparecem os Sargentos A. Machado, Vivaldo, Almeida, Leal e Aguiar; todos mecânicos, à exceção do Leal, Especialista em Sistemas Elétricos de Aeronaves. Foto minha, de JUN/JUL91.

Descrição esquemática de parte do funcionamento do "Rudder Trimmer", em página da T.O.(Tê-Ó), que era como nos referíamos, em inglês, às Ordens Técnicas, publicações que regiam a manutenção dos P-16.

Diagrama do sistema de controle direcional dos P-16/S-2, escaneado das T.O.s.

Peço desculpas aos estimados leitores, mas ainda não consegui domar o controle das fontes, que garantiria a uniformidade das letras no texto final. Eu tenho, realmente, tentado. Não é desatenção para com o leitor.

Comentários

Postagens mais visitadas