Sobre "Catrapo" e T-6s.
...desde o dia 12FEV1959, o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada começara a prática dos "catrapos" em Santa Cruz; quer dizer, o treinamento em terra, simulando os pousos em porta-aviões. Na verdade, desde os anos 1940, sem que eu tenha muitas luzes sobre o porquê (o assunto aparece em artigos de revistas, aqui e ali, como a ASAS nº3, de 2001, por exemplo), alguns oficiais-aviadores da Força Aérea Brasileira (FAB) haviam feito cursos junto à Marinha dos Estados Unidos (US Navy), onde receberam qualificação para pousos a bordo de porta-aviões.
Ao criar o 1º GpAvEmb, em FEV57, havia, talvez, quarenta oficiais com aquele tipo de formação, e a FAB agrupou três deles no Grupo (O Globo, Correio da Manhã e Diário da Noite, 23ABR59), que se encarregaram das primeiras tateadas operacionais da nova unidade, no tocante às operações aéreas embarcadas. Evidentemente, além da falta de um porta-aviões, objetivamente falando, ainda, a Marinha do Brasil (MB) resistia feericamente à pretensão da FAB a operar os aviões que ocupariam o convés de voo do futuro Minas Gerais. Claro, "Minas Gerais" indica o estado natal do presidente JK, que autorizou a compra do navio, visando aliviar a pressão dos militares, principalmente do udenista, Brigadeiro Eduardo Gomes, sobre o seu governo (cfe. "Sexta Feira 13", de Abelardo Jurema).
De qualquer maneira, para além dos truques, arranjos e suicídios da vida política brasileira da década de 1950, o "catrapo" em terra foi logo introduzido nas rotinas aéreas da unidade, conforme foram se alocando meios aéreos para a realização dos Field Carrier Landing Practice, FCLP (Prática de Pouso em Porta-Aviões em Terra) conforme a doutrina absorvida na USN, na década de 1940. Foram usados, para o início deste particular da instrução aérea da unidade, cinco T-6D: 1322, 1424, 1554, 1583, 1600, vindos do Parque de Lagoa Santa, em Minas Gerais (!).
Curiosamente, o OSP que aparece nesta foto, foi o responsável, já como Ministro da Aeronáutica, por assinar a desativação do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada. |
O, hoje, Brigadeiro Assis, lembrou no grupo dos veteranos no FB: "Foi uma época onde a experiência anterior dos companheiros que haviam cursado
na US NAVY em 1948/49 era a base de tudo. Não sabiam nada de espelho de pouso -
adotado posteriormente pelos americanos - tanto que foi construído um, plano [ao invés do côncavo, como era o padrão operacional) e o 'Catrapo' era feito com um arremedo de espelho e um ´'OSP' [Oficial Sinalizador de Pouso, ou, LSO, em inglês] usando 'paddles' [uma raquete colorida em cada uma das mãos, movimentadas para orientar o piloto na aproximação final].
O importante foi á adaptação ao voo com velocidade reduzida - 80 milhas no T-6 -
e o pouso placado sem arredondamento. Esta improvisação pagava um preço pois os
T-6s iam se desgastando com os pousos. Havia um cabo de vassoura cortado na
bitola do trem de pouso e era a primeira inspeção após os voos. Os que não
passavam no teste eram recolhidos ao PAMA-LS : foram vários!"
O espelho de pouso plano, a que se referia o Brigadeiro Assis, acima, em foto de O Cruzeiro, de 1963. esta foto eu recebi via André Borges. |
Na mesma época, a USN também usava a versão naval dos T-6, o SNJ, para preparar os seus pilotos para as operações aéreas embarcadas, como o que aparece na foto que encima o artigo, tirada em FEV55. O GAE recebeu alguns SNJ (que possuíam ganchos de pouso na cauda e reforços estruturais), mas a maioria dos aviões usados neste mister pelo 1º GpAvEmb eram T-6 mesmo. Daí um atrito tão elevado. As fotos que trazem os próprios dísticos, evidentemente, vieram dos arquivos da unidade, que resistiram a todos os desafios do tempo. Infelizmente, não guardaram o registro dos fotógrafos...
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