Sala de Brifim Número Dois, a bordo do Minas Gerais.

..."briefing" é uma palavra inglesa com alguma largueza de significados. Para o pessoal da aviação, em geral, o mais notório é "reunião", talvez; mas, ainda assim pode assumir o sentido de "resumo geral".  Os mais versados na língua (e nas coisas da aviação) haverão de me salvar através de algum comentário, por certo. Seja como for, destes dois sentidos, principalmente, derivam termos como "Briefing Room", em português, "Sala de Briefing", que evoluiu, lógico, para "Sala de Brifim", ou, "Sala de Apronto". É o lugar da REUNIÂO, onde se vai ultimar os detalhes para a execução de uma missão. O lugar dos últimos ajustes e instruções, o APRONTO. Na verdade, a mesma lógica se repete ao fim do voo: a missão só acaba depois do "debrifim", um balanço, uma revisada geral, um resumo, no que foi feito durante o voo. Na verdade, a rigor, "brifim" e "debrifim" não dependem de sala nenhuma (quem nunca participou de um brifim sob a asa do avião que atire a primeira lata de óleo).

O Comandante da Embarcada, Tenente Coronel Pinto de Moura abre a cerimônia, com o Major Fernandes. Reparem no quadro negro, a convocação para aquela reunião. deduzo porque os negativos só mostram oficiais presentes. O fotógrafo mostra a perspectiva de quem estava sentado, ou seja, olhando para a frente da sala, olhávamos para a popa do navio. Ficávamos de costas para o sentido do deslocamento do velho Minas.
O Major Fernandes faz a honras ao homenageado. À DIR da foto, uma porta que dava acesso ao grande corredor do convés da galeria. Podia-se ir da popa à proa por ali, descendo (para o convés do hangar), ou subindo (para a ilha e convés de voo). Havia uma outra porta ao fundo da sala.
Na extrema ESQ, em cima, no quadro-negro, aparecem os trigramas dos escalados para o  serviço na Torre (TWR) e o OSP. Mostra-se o NDB do navio, e as chaves dos códigos de chamada rádio, para serem usados durante os voo. Do outro lado desta antepara à frente, ficavam outros escritórios (Ajudância, EQV) e banheiro, reservados à Embarcada. 

O porta-aviões Minas Gerais, a base primeira do Primeiro grupo de Aviação Embarcada (alguns pensam que era Santa Cruz), tinha três salas de brifim, e a número Dois era a do 1° GpAvEmb, por ser a maior, e caber mais gente; o que não significa que coubéssemos todos lá ao mesmo tempo, salvo para algum evento especial. Nestes casos, todo mundo se comprimia, ocupando qualquer espaço, escorando-se na parede do corredor (na verdade, antepara de bombordo, nós estamos a bordo, lembra?), ou na antepara de boreste, que era inclinada uns 20°, acompanhando o desenho do casco do navio sob a ilha. Ali até que dava um bom lugar para se ficar recostado. Na verdade, eu guardo a tese de que era justamente aquele ajuntamento do Brifim Dois, o verdadeiro útero que gestou os laços de lealdade e camaradagem que marcavam os homens do 1º GpAvEmb. Ali, oficiais, graduados e praças, literalmente, viviam ombro a ombro, sentavam lado a lado, ainda que sem prejuízo da hierarquia e da cortesia militar. Sem querer parecer Shakesperiano, no Brifim Dois era sempre dia de São Crispim, o tipo lugar propício à formação dos Band of Brothers. E nós todos, ainda hoje, nos orgulhamos muito disso.

Enquanto o Major Pequeno vai agradecendo o presente, podemos ver à DIR do quadro-negro, uma tabela com as disponibilidades de cada avião a bordo: Ganchos, pousos e horas. Reparem que o 7024 já tinha cinco pousos além do que devia.
Junto à porta, à DIR da foto, está o "destinômetro" dos oficiais. Quem se ausentasse do Brifim, deixava escrito ao lado do seu trigrama, o lugar/ramal onde poderia ser encontrado; Noblesse oblige.
Bueno, a despeito de todos os aspectos intangíveis presentes no convívio no Brifim Dois (até mesmo porque, naquela época, muito poucos de nós nos dávamos conta dos predicados daquele tipo de socialização), em 21OUT81, o fotógrafo do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, o Sargento Cinello, registrou uma homenagem, provavelmente a despedidas da unidade do major Pequeno, no Brifim 2. Faltava muito para eu chegar na unidade.

Reparem na tubulação do sistema de extração, percorrendo o "forro". Através de motores elétricos, o sistema ficava renovando o ar, constantemente, dos compartimentos habitáveis. Ainda não havia sido instalado o grande aparelho condicionador de ar, lá ao fundo, à ESQ do Brifim Dois. Fazia muito calor ali, normalmente. Os dutos da chaminé passavam já por trás do isolamento à frente da sala. Tanto calor que, em 1996 tivemos um incêndio ali, um convés a baixo, que alcançou as nossas dependências. Noite de combate às chamas.

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