"Minas Gerais! Isto não é um exercício! Crash no Convoo! Guarnecer postos de combate!


...O título do artigo reproduz o protocolo do fonoclama do Minas Gerais para o caso de acidentes no convoo, o convés de voo; este tipo de alarma (seguido de uma sirene tenebrosa) alcançava cada espaço habitável do navio. A tripulação largava o que não fosse essencial, e acorria aos seus postos de combate, visando estar pronta para minimizar qualquer circunstância que pusesse em risco o navio, sua capacidade de combater, de navegar e, finalmente, de flutuar. De fato, em 06MAR88, enquanto um acidente punha o velho P-16E 7031 no rumo das fábricas de panelas, a tripulação do Minas Gerais cerrava fileiras para conter a emergência.

Os homens da Embarcada, na condição de tripulantes do navio, tinham a obrigação de compor as equipes de combate a incêndio, como qualquer marujo. Em qualquer foto P&B, os Sargentos e Suboficiais da unidade são facilmente reconhecíveis, por vestirem o "gambá", as blusas marrom com uma faixa branca, indicativas da Divisão "Victor Seis" (V-6), do Departamento de Aviação do navio. Cabos e Soldados são menos discerníveis, pois vestiam as blusas completamente marrom.
No caso do 7031, rompimento do tanque da asa ESQ depois de mais um caso de quebra do trem de pouso principal; incêndio. O Oficial Sinalizador de Pouso (OSP) de serviço, recebendo aquele voo, era o então Major Souza Lima, e ele lembrou na página dos veteranos do1º GpAvEmb, em 26JUL13, que os "[...] pilotos eram o Sperry e o Barreira; pegou fogo, um Sargento da equipe de Armamento entrou no avião, com ele em chamas, para retirar os PDC´s (cargas de profundidade, de exercício) e evitar a explosão, foi um herói".

Reparem no cabo de parada, ainda tensionado pelo gancho de pouso do avião. Eu desconheço as circunstâncias que assistiram ao J. Cruz, o fotógrafo do 1º GpAvEmb naquele dia, mas me parece que ele não conseguiu captar o pior do incêndio. Ou ele não estava com o seu equipamento, e precisou ir buscá-lo, ou, não estava no convés de voo, na hora do acidente. Seja como for, quando iniciam os registros, o combate ao fogo já ia adiantado.

Bem, de parte a narração dos acontecimentos daquele dia, convido o leitor neste momento a perceber um fenômeno muito comum aos historiadores, quando se juntam testemunhos de pessoas diferentes sobre eventos já alonjados no tempo. Este fenômeno aparece a partir do testemunho de um outro observador do acidente, em comparação com o anterior, do Maj. Souza Lima. De fato, o então Sargento Bento, Especialista em Chapas e Metais de Santa Cruz, que embarcava em apoio ao GAE registrou:

"Eu estava a bordo quando o '31' ficou queimando no convoo. Se não fosse o heroísmo do Ruceman, que retornou (sic) à aeronave em chamas, para fechar a [válvula] seletora de combustível que ele 'achou' corretamente [ainda estarem abertas] [...] Acredito que a aeronave teria explodido sobre o convoo, e sobre as linhas de abastecimento de combustível que eram posicionadas sob a 'asa' do convoo." (publicado na página dos veteranos no FB, em 03JUN13)



Bom, lendo os dois testemunhos, onde eles divergem, pode parecer que havia uma fila de heróis esperando para entrar no avião que ardia. Bem, é verdade que não podemos descartar qualquer registro da memória, mas devemos ter em mente que esta costuma pregar pequenas peças em todos nós. De certo mesmo, graças às lembranças de uma terceira testemunha, resta o fato de que o nosso velho Ruceman, Mecânico (e não da Seção de Armamento), já falecido, estava mesmo de serviço no convés de voo naquela hora: "Eu estava no convoo, guarnecendo [equipe de serviço no convés de voo] com Ruceman e Martins; lembro bem do ocorrido! Foi a maior correria!", escreveu o, então, Soldado Gladston, conforme registrou no FB, em 1ºNOV14. E é possível que o Gladston, por estar próximo do Ruceman, e deve ter visto o que o seu superior imediato estava fazendo, de fato, estivesse concordando com a narrativa do Bento, é possível que ele a tenha lido, uma vez que o seu próprio comentário é de data posterior. Pelo menos ele não contradisse o Bento, dizendo que o Ruceman não entrara no avião sinistrado.



Eu juntei duas fotografias diferentes, aqui.

Da minha parte, estava a três meses da minha formatura na Escola de Especialistas de Aeronáutica (189ª Turma, a AZUL 86), e nem sabia, ainda, que conseguiria satisfazer a minha vontade, e ir para a Embarcada. Portanto, só pude mesmo escutar as histórias (as "fichas", como dizíamos) a respeito do acidente do 7031, contadas pelos colegas mais antigos, quando cheguei na unidade. Soube que, e me lembro muito especialmente da narração/dramatização do Ricardo, as linhas de espuma "deram pau", ou seja, não funcionaram, como aparece nas fotos, e o combate às chamas foi feito com água. Ora, se a gasolina é menos densa que a água, e a gasolina está inflamada, resultou  que com o balanço do navio, as chamas pegavam uma "carona" na água, que escorria de um lado para o outro. O Ricardo dava gargalhadas imitando o pessoal que corria tanto para, como das chamas, conforme o navio adernava de um lado para o outro.

Acredito que, vendo o alumínio consumido pelo fogo, uma mesma pergunta ocorrerá ao distinto leitor: "o que diabos este pneu está fazendo, inteiro, no meio de toda esta devastação?!"


A empilhadeira utilizada nos serviços de resgate/contraincêndio, ergue o lado ESQ do "31", para que os Especialistas da Embarcada efetuem a substituição do trem de pouso quebrado, de maneira que o avião recobre a sua mobilidade no solo. É a hora, também, de proceder aos registros fotográficos, visando os fins da investigação do acidente.


O Sargento Cheble (olhando para a DIR) e. possivelmente, o Sargento Carlos José, ambos da Seção de Sistemas Hidráulicos, responsáveis pelos trens de pouso, aparentemente vão terminando o serviço de substituição da perna do trem ESQ. A estrutura à DIR é o macaco (que não cabia no porta-malas).

Seja como for, no dia 06MAR88 ninguém se machucou, quer no avião, quer no convoo. As fotos P&B foram feitas pelo fotógrafo do Grupo, o J. Cruz (Ozenir Cruz). Algumas delas vieram dos arquivos que o OSV do 4º/7º botou fora em 2000/2001, e que eu retirei do lixo. Outras foram escaneadas diretamente dos negativos...

Sargento Bento, testemunha do acidente, publicou a sua recordação na página dos veteranos, no FB. Era aniversário dele! Reparem na nova perna do trem de pouso, já no lugar. Tanto o avião quanto a empilhadeira estão devidamente calçados (os bloqueios nas rodas) e peiados (as correntes, prendendo-os ao convés).

Já suspenso pela cábrea, o 7031 é retirado de bordo para ser levado ao aeroporto Santos Dumont. A extensão dos estragos é evidente.

Close up da cauda do 7031, quando ele ainda vestia a farda da Marinha do Tio Sam. O nosso "Três Um" era na verdade, o BuNo 152352, conforme se lê sob o atuador do Rudder Trim. Eu encontrei esta foto num Blog muito interessante, dedicado ao modelismo de aviões da Marinha dos Estados Unidos. Quando eu recuperar o nome deste Blog eu o publico aqui

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