Num porta-aviões, o que não queima, explode...


...escrevendo o livro "Incredible Victory" (Em português, "Midway a vitória impossível", publicado pela Nova Fronteira), sobre a batalha de Midway, Walter Lord entrevistou muito sobreviventes dos porta-aviões envolvidos, tanto Japoneses quanto americanos. Ele descreve como um deles, um piloto do Kaga, o suboficial Morinaga, tentou, em desespero, organizar algum esforço contra os incêndios que grassavam descontrolados pelo navio, alimentados pelas explosões contínuas de munição e carburantes dos aviões e equipamentos: "[...] ele tentou atirar combustíveis na água, mas em um porta-aviões quase tudo é combustível." Claro, aqueles eram incêndios provenientes da ação do inimigo, que te joga bombas. Mas fogo é fogo, e ele pode vir de qualquer fonte. Daí a importância do condicionamento contínuo da tripulação no combate às chamas.

Em MAR95, uma fissura na tubulação hidráulica de dobramento das asas, permitiu que o óleo hidráulico se incendiasse (3000psi de pressão!). Após o alarma, eu corri pro meu armário, para pegar a máquina fotográfica. Do talabardão da catapulta eu fiz esta imágem. Além do SH-3 pode-se ver fumaça negra e correria. A foto mais acima mostra o fogo já dominado, e o resfriamento da equipe que ataca o fogo.

O fonoclama do navio anunciava: "...MINAS GERAIS... faina de reabastecimento de aeronaves, é proibido fumo, corte e solda entre as cavernas tal e qual...". Tudo para evitar qualquer coisa que servisse de fonte de calor para algum vapor de combustível, algum vazamento não detectado. Cuidado e treinamento constante, contra as eventualidades, por isso, dá-lhe exercício: "...MINAS GERAIS, isto é um exercício, incêndio na BRAVO UNO, guarnecer postos de combate!..."; MINAS GERAIS!...crashe no convoo, guarnecer postos de combate!... Duas, três, quatro vezes por dia. Muitas vezes, na sequência do exercício se ouvia "MINAS GERAIS!...isto é um exercício, incêndio fora de controle... preparar para abandonar o navio; guarnecer postos de abandono!


Em JAN90 o Minas enfrentou uma pane no sistema de extração (que troca o ar dos compartimentos) de uma das praças de máquinas (Bravo Uno, ou Bravo Dois). O superaquecimento fez incendiar a tinta. O meu posto de combate era o hangar, mas se eu tivesse obedecido à ordem de guarnecer, não teríamos fotos. Qualquer veterano da Embarcada vai saber que o cabeludo loiro da foto é o Grossl, uma das mentes mais geniais que eu conheci...

Com ou sem exercícios de abandono, nos meus dias de ma
r, testemunhei três incêndios a bordo (Neste caso, o 'boca-de-ferro' anunciava: "...MINAS GERAIS!... ISTO NÃO É um exercício..."). Num deles, de fato, cheguei mesmo a guarnecer uma linha (mangueira), eu e o Ronaldão. Noite escura como o diabo, não se via o mar dez metros abaixo, e nós debruçados sobre o talabardão a boreste da ilha; o Ronaldão abraçando a cintura de um campanha de marinha que manejava uma linha de resfriamento, que ele lutava para dirigir contra a área do costado do navio tocado pelo compartimento que se incendiava, e eu agarrado no talabardão, fazendo um gancho com o meu braço esquerdo, e a mão direita segurando o Ronaldão pelo cós da calça dele, esperando que o cinto e o arreio abdominal do salva-vidas fossem fortes o suficiente. Como eu não tenho netos, divido a experiência com o digno leitor. Seja como for, embora eu não conheça estatísticas, eu diria que o Minas Gerais era um navio super disciplinado e seguro.

Eu e o Ronaldão no corredor do Brifim Dois, depois dele levar uns pontos na cabeça, entre MAR/MAI96. Que grande sujeito! Todo recheado de integridade em estado puro. Grande sujeito!


Em 26OUT66 um marinheiro do USS Oriskany, inadvertidamente, acionou um iluminador e, em pânico jogou-o no paiol onde se guardavam aqueles pirotécnicos, a vante do hangar. Depois de três horas o incêncio foi contido, e 44 homens foram sepultados no mar. 


Em 29JUL67, um foguete que seria disparado pelos aviões do USS Forrestal contra os vietcongs, foi acionado em pleno convés de voo, chocou-se com um outro avião, entre todos os que estavam abastecidos e armados para um próximo ataque. A reação em cadeia destruiu mais de vinte aviões, e matou 134 pessoas.




O ar superaquecido de um motor a jato detonou a munição pendente das asas de outro avião, iniciando uma reação em cadeia a bordo do USS Enterprise, em 14JAN69. Perderam-se quinze aviões e 30 marinheiros morreram.














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