Caiu na rede, é avião.


...entre os envelopes nos quais ficaram guardados os arquivos dos fotógrafos do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, pelo menos quando passaram a ser organizados assim (aparentemente, pelo Suboficial Castilho/Sargento Aguiar, já no final da década de 1970), não restava muita coisa dos períodos anteriores, pois só mesmo fragmentos eu encontrei. Virtualmente, todos os negativos já eram de 35mm.  Talvez, os negativos dos primórdios do Grupo (quando deveriam abundar os registros com negativos em formato maior, como os lindos 6x6, por exemplo) ficassem a cargo de Seção Foto da Base Aérea de Santa Cruz, e tenham permanecido por lá.

Evidentemente, a autoridade deveria estar a bordo do 7025, do contrário, seria mais difícil justificar a atenção do fotógrafo com este avião. É de se notar a falta do navio-guarda nestas fotos iniciais. Dá a impressão de que o Minas navegava escoteiro, fenômeno raro, mas não impossível.

Arremetida, após o toque. Uma vez recuperado o voo, o piloto realinha o avião com o avanço do navio (lembrar que a pista de pouso estava desalinhada em 8,5° com o eixo longitudinal do navio), e procede a um novo tráfego de pouso, o tráfego "Charlie", mantendo 350 ft (pés) acima d´água, e perna do vento a 1500yd (jardas) do navio, até iniciar a curva-base, no través da popa do navio.

Recomendo comparar com a primeira foto, mais uma vez, o ponto de toque do avião no convoo. Na orla do convés, na DIR da foto, aparece um dos braços de sustentação da barreira de emergência, devidamente recolhido, na projeção que lhe foi construída a bombordo.

Seja como for, a verdade é que o sistema em si era bastante precário, e a manutenção da integridade do arquivo dependia unicamente do capricho, da pressa, ou, da memória do fotógrafo que o manuseava. O fenômeno, ou, o problema mais comum que eu encontrei ao vasculhar aquele material foi o da dispersão. Tirava-se um negativo, ou, vários (na medida em que normalmente, após a revelação, as tiras de acetato acabavam cortados em grupos de quatro, ou cinco "frames") para a feitura de reproduções, e aquela fração do arquivo nem sempre voltava ao envelope original. Encontrei casos em que algumas tiras estavam em envelopes completamente estranhos; alguns eu fui capaz de reagrupar, outros, não me atrevi, uma vez que não consegui aproximá-los, conclusivamente. Deixei-os como "avulsos". Claro, perdemos nós, a posteridade, com isto, pois, além da fragmentação, muita coisa simplesmente sumiu.

O Brigadeiro Drummond é saudado pelo comandante e a tripulação do Minas Gerais. À porta, o TCel. Guido, então comandante da Embarcada, desaparecido num irritante acidente aviatório, junto com outro ex-comandante do GAE, o Cel. Pinto de Moura. Ambos queridíssimos por totalidade de seus antigos subordinados.  

Pois para o caso do envelope reservado para as fotos do embarque realizado entre 08-17AGO83, nós, a posteridade, demos sorte. Tudo quanto aparece descrito pela mão do fotógrafo, no envelope, encontra-se no grupo de negativos que restaram. De fato, o Brigadeiro Drummond fez uma visita ao Minas Gerais; ele era um dos pilotos pioneiros do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, e devia ser ele aos controles do 7025, conforme este avião aparece executando um toque-e-arremetida, antes do pouso final. É interessante reparar ONDE ele fez o avião tocar o convés de voo, na 1ª e 3ª fotos deste artigo. Parecem uma foto só! Só que não. Uma coisa interessante que se pode depreender das fotos, é a camaradagem entre o Oficial General da Força Aérea Brasileira, e o comandante do navio, um Capitão-de-Mar-e-Guerra. Duvido que os veteranos da Embarcada não identificarão aí, um índice da grande camaradagem interpessoal desenvolvida entre o pessoal das duas Forças Singulares, operando  partir daquele navio.

A expansão do Brig. Drummond possivelmente demonstra a existência de laços algo diferentes da mera cortesia militar; possivelmente criados enquanto ambos oficiais, mais modernos, dividiam as fainas marinheiras a bordo do Minas Gerais. Por certo que o ritual militar, por si só, normalmente coloca o Oficial General numa atitude menos relaxada em público, especialmente diante da tropa. Aqui, esta barreira parece não fazer muito sentido, o que é sempre muito inspirador.

O segundo ponto enunciado à mão no envelope de que tratamos, refere-se à execução de um exercício com a "rede". Ora, "rede" coisa nenhuma, a "Barreira" de emergência, destinada a "pescar" um avião com problemas, no seu retorno ao navio. Estas imagens, na verdade, são raríssimas, até onde eu posso perceber. Pessoalmente, nunca vi a barreira ser montada no navio, durante o tempo em que tive a felicidade de embarcar nele. Antes destas, na verdade, não lembro de sequer de ter visto alguma foto da barreira montada! e mais, com um avião emaranhado nela.

A rede" (!) sustentada por seus braços de suporte, que permaneciam deitados sobre duas extensões, em cada lado do convés de voo. Mantive a foto sem retoques, certo que o nobre leitor haverá de, uma vez interessado, tratá-la mais apropriadamente, com maior talento, do que o meu próprio, com os "fotochópes".

Antes de terem sido colocados nas extensões projetadas para fora do convés de voo, os braços da barreira ficavam numa posição interior, mais próximos da faixa de pouso, numa configuração de flagrante redução da margem de segurança, no caso de uma emergência.

A barreira, desde a reconstrução do Minas na Holanda (1957/60), ficara restrita para o uso dos P-16. Somente após a grande parada do navio na segunda metade da década de 1970, da qual emergiu em 1980, é que os seus braços de sustentação foram postos de maneira a garantir uma separação segura com as pontas das asas dos aviões. Foram 20 anos (!) de inadequação. O documento intitulado "Instalação de Barricada no NAeL Minas Gerais", de 19MAR75. do Comando do 1º GpAvEmb, chama a atenção para que os ditos braços permitam um desalinhamento do avião, de três metros; além disso, declara que é preciso, para garantir a segurança do recolhimento em emergência, que a estabilização do Espelho de Pouso seja perfeita pois "[...] o funcionamento inadequado deste Sistema, como vem ocorrendo desde 1965, não permite aproximações em situação de emergência [...]". Como se vê, antes de 1980, num caso de emergência durante as operações aéreas embarcadas, os Cardeais estariam, sempre... numa emergência.

Próximo à linha do horizonte, aparece o navio-guarda, um contratorpedeiro, ocupando a posição mais comum para os navios encarregados daquela tarefa, ou seja, prontos a intervir, no caso de um sinistro, que ponha um avião e seus tripulantes na água.

Não sei se esta cena repetiu-se, em algum momento da vida do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada. Como diria a Rapunzel: "entangled"...

As fotos foram feitas pelo suboficial Castilho, fotógrafo do Grupo.

Comentários

  1. Sonho realizado, achava que o Minas não possuía barreira.

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    1. ...uma surpresa pra mim, ver essas fotos, também, embora eu soubesse da existência...

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