"Pessoal de mu" em Santa Cruz.
...dentre todo o leque das atividades do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, quando solicitado, havia o treinamento para os homens de Marinha que guarneciam o convés de voo do Minas Gerais. Normalmente, os "de mu" (como os companheiros chamam aos colegas, na gíria marinheira; "de mu", os "de mulher", ou seja, os que são afeitos ao sexo oposto), se deslocavam lá para Santa Cruz, para uma adaptação ao avião, seus barulhos e respostas, que podiam, sem dúvida, desfocar a atenção de um não iniciado, durante as sempre perigosas operações aéreas embarcadas.
Para os marujos que manejavam os calços, por exemplo, era importante o contato físico com os P-16, pois a eles cabia acompanhar os aviões durante os táxis pelo convoo, calçando as rodas assim que os aviões paravam de se movimentar. Era um procedimento de segurança de primeira importância, principalmente quando se tem pessoas e aviões (e mais hélices) em movimento próximo, num convés que se inclina em todos os eixos.
Eram momentos de stress, com o barulho dos motores ligados, a enormes e ameaçadoras hélices, o calor do escapamento, o turbilhão de vento a jogar tudo para trás; e tudo isso, de olho nos movimentos dos orientadores. As responsabilidades daqueles meninos só não eram maiores do que os riscos a que estavam submetidos. E lá em Santa Cruz eles aprendiam a andar ao lado dos possantes P-16, agarrados às alças que estes possuíam no lado externo das naceles dos motores.
O gancho de catapultagem, visto de lado. O avião é o 7033. Não sabia, claro, mas eu fotografava aquele avião, a |
Outra equipe que se beneficiava grandemente deste contato mais benigno com os aviões do 1º GpAvEmb era o pessoal dos aparelhos de parada e de lançamento, a catapulta. Estes precisavam acocar-se, engatinhar, espremer-se, entre o convés de voo e a barriga do avião, de maneira a prendê-lo aos equipamentos de lançamento, manejando os peados e desajeitados bridões, tudo isso a poucos centímetros das duas hélices, girando ameaçadoramente. Qualquer movimento mal pensado, num momento de indecisão, ou, confusão, que levasse o marinheiro para as laterais da fuselagem, ao invés de mover-se por sob ela, no sentido longitudinal do avião, significaria a morte certa. Era preciso estar preparado para executar este trabalho, Ninguém duvide!
Havia, também, a necessidade de sinalização (sem rádio) entre os oficiais de lançamento e as tripulações, que indicavam um "tudo OK", ou, indicavam que o lançamento precisava ser abortado. Tudo por sinais de mãos, de cabeça, bandeiras, luzes (a noite) e um placar (na catapulta), tudo dando conta de situações que tinham que ser avaliadas e gerar respostas em instantes, para não prejudicar o lançamento/recolhimento dos aviões subsequentes.
Também havia a necessidade de familiarização das equipes de socorro com os acessos ao interior do avião, e os meios para a retirada das tripulações num avião sinistrado e, é claro, a formação dos orientadores, os homens responsáveis por manter a segurança durante os taxis e as manobras a bordo do navio. Imagine o caro leitor, nos espaços confinados do Minas Gerais, manobrar um avião sem que ele se perca pela borda! Manobrá-lo, a centímetros da borda, mas com toda a segurança. Os pilotos, da cabine, não viam nada (o que dizer dos Operadores, confinados no compartimento posterior, e suas minúsculas janelinhas), apenas confiavam na fibra daqueles "de mu"; e todos viveram para contar as histórias...
Todas as fotos em preto&branco foram digitalizadas do grande "Histórico Fotográfico" do GAE, pelos fotógrafos do 4º/7ºGAv Monteiro, Fonseca e Atayde.
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