Expectativas frustradas na largada. O Minas Gerais encalhado em Buenos Aires.


...entre 25OUT e 11NOV65, meros três meses depois do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada ter iniciado suas operações a bordo do Minas Gerais, a unidade viu-se envolvida no grande exercício hemisférico organizado anualmente pelos Estados Unidos, a UNITAS ("iunitós", como eles vocalizavam a palavra). Era a sexta edição do evento, e após a longa e amarga disputa entre a FAB e a Marinha sobre o direito de operar aviões e helicópteros a bordo do navio, pode-se admitir que havia muita expectativa no ar, quando não ressentimentos e invejas campeando nos pontos de contato entre as fardas azuis e as brancas.

Fotos do Arquivo Nacional, mandadas pra mim, gentilmente, por André Borges Lopes, outro incansável pesquisador, a quem sou sempre muito grato pela gentileza. O caráter cerimonial da situação retratada na imagem, é dado pelo uso das calças brancas, por parte do pessoal de Marinha. A grande abertura na antepara a frente do helicóptero no elevador (um dos que eram do 1º GpAvEmb), é o acesso ao paiol/oficina de torpedos. A pequena porta acima, dá acesso ao rancho dos 2ºs e 3ºs Sargentos.

Os amortecedores do avião sob os esforços do pouso a bordo. Lindo de ver. Um espetáculo feito de força, violência barulhenta.

A solenidade do momento por certo não poderia ser exagerada. Como uma manifestação evidente da importância político-institucional do momento, o próprio Presidente da República, quem assinara o decreto dividindo aviões e helicópteros entre a Força Aérea e a Marinha, respectivamente (coisa que por certo, salomonicamente, deixou gente ressentida em ambos os campos em disputa), esteve a bordo do Minas Gerais, acompanhado de nutrido séquito. Para saudar a autoridade, o navio realizou algumas demonstrações à saída do Rio de Janeiro, quando a Força Tarefa brasileira partiu em direção a Buenos Aires, de onde as marinhas atlânticas iniciariam seção atlântica da UNITAS, juntando-se aos navios da Marinha dos Estados Unidos.


A "parede" (antepara) inclinada identifica, sem dúvida, o Brifim Dois em sua configuração inicial. Mais tarde ele seria alargado, o que aumentou sua capacidade, e receberia um "assoalho" com algum gradiente, dando-lhe um aspecto de auditório; um espaço muito mais confortável e funcional do que aparece aqui. Quem saísse pela porta ao fundo, poderia andar sempre em frente, até a proa do navio. Poderia, também, girar para a DIR e subir a escada dupla que conduzia à ilha. 

Pois no momento em que ambas as partes recém saídas do litígio teriam a oportunidade de arreganhar os dentes, dentro da arranjo inusitado, o navio passou por este aperto, apresentado na foto que abre este artigo! Foi preciso a todos os envolvidos, refrear seus entusiasmos diante do anti-climax , ansiosos que estavam para mostrarem-se e medirem-se entre si e com as esquadras envolvidas nos exercícios. O relato abaixo, publicado no grupo dos veteranos da Embarcada, no FB, é do Brigadeiro Paulo Assis, "Testemunha Ocular da História":
"O Minas, na entrada do Rio da Prata, com prático [a bordo], deu uma raspada no barranco do canal com perda de um eixo mas não encalhou. No cais, em Buenos Aires, os condensadores do lado esquerdo foram limpos e o eixo voltou a funcionar. Na saída houve o encalhe total. Com a maré mais cheia, 12 horas depois, e com o auxilio de 6 rebocadores o Minas foi solto e rebocado de volta para os trabalhos de limpeza, que duraram 48 horas. A saída ocorreu sem problemas e, no mar, o Minas chegou a dar 19 nós tentando chegar no Rio junto com os outros navios. Era nossa primeira UNITAS, e não pudemos mostrar nossa eficiência."



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