Sobre "pé-frio", ou, "flap-frio".

...em 14ABR80 o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada perdeu seu primeiro avião a bordo do Minas Gerais, desde a perda do 7020, em 30AGO71. Justamente, o acidente aconteceu durante o embarque de reestreia do Grupo a bordo, depois da grande parada para manutenção e modernização pela qual o navio passou, na última metade da década de 1970. Segundo o relatório da investigação do acidente, a falta de embocadura das tripulações, depois de tanto tempo sem operações embarcadas, aliada a um incidente precedente, cujos danos ao trem de pouso dianteiro não foi detectado, selaram a sorte do 7026 naquele dia.

O 7026 sobre o convés de voo do Minas Gerais. A peça branca imprensada contra o convoo é a porta do trem de pouso dianteiro. Reparem no amassamento da fuselagem, causado por fragmentação de hélice. Foto dos arquivos descartados pelo OSV do 4º/7º GAv, que eu tirei da pilha de reciclagem. Toneladas de documentos da Embarcada pagaram o churrasco de final de ano da unidade...

Pois num outro belo dia daquele mesmo mês, ou, em maio, não consegui determinar com precisão, lá em Santa Cruz, o 7018 estava "abrindo" suas asas, durante procedimentos de rotina, e a asa esquerda foi abrindo, abrindo, abrindo... bom, o resultado foi a necessidade de receber peças de reposição; se não a asa ESQ toda (eu desconheço os detalhes do incidente), pelo menos o flap. Como se vê das evidências fotográficas, a solução mais expedita foi utilizar partes utilizáveis do recém sinistrado "26", e dele veio, o flap ESQ, pelo menos. Aliás, como irão demonstrar as fotos, também, a Manutenção do 1ºGpAvEmb não teve nenhuma pressa em repintar a matrícula original pintada naquela peça, agora voando com o P-16A 7018.

A abertura de asas defeituosa do 7018, de ABR/MAI de 1980. Reparem, a seção externa da asa ESQ, a que dobrava, ficou fletida para baixo, e deformou muitos componentes do sistema de dobramento (wing-folding system). Estas fotos foram feitas pelo Sargento Aguiar.
Cisalhamento dos parafusos das "dobradiças" do sistema, na asa ESQ do 7018. A DIR da foto, corresponde à frente do avião, e na parte ESQ, se percebe a fuligem do escapamento do motor.
Retirada a seção externa da asa ESQ, danificada, do 7018. Pode-se ler a matrícula contracta no flap da asa DIR. Reparem nos "cilindrinhos" hidráulicos que orlam o perfil da asa. Eles que, acionados, mantinham as duas seções da asa íntegras, uma vez distendidas as asas. O sistema todo era acionado por 3000psi de pressão hidráulica. Os demais sistemas hidráulicos eram acionados com 1500psi.

Nada obstante, e, certamente (??), não por causa disto, um ano e seis meses depois, a "bruxa" apareceu de novo, para reunir os destinos dos dois aviões, do 7018 ao do 7026. Desta vez, de maneira sinistra. De fato, em 15NOV81, nos campos circundantes à Base Aérea de Santa Cruz, adjacentes à célebre Vala do Sangue, o 7018 consumiu-se num incêndio, que se seguiu a um pouso de emergência, além da cabeceira 24; ainda carregando o flap herdado do 7026, que ostentava a matrícula deste.

Os escombros do 7018, na manhã de 16DEZ81. Lê-se ainda a matrícula do 7026 no flap ESQ do 7018. Foto do Capitão, então, Sargento Cinello, fotógrafo da Unidade.

Pessoalmente, tomei ciência deste acidente por ouvi-lo em tom de “causo”, fluindo ao esvaziar dos copos de cerveja, na cantina do Mário, por entre as tantas histórias contadas pelo glorioso João Carlos Cominese, mecânico de voo do Grupo. Ele, recorrentemente (da mesma maneira que fluiam os copos de cerveja), contava sobre as correrias daquele dia, pois que era justamente ele quem estava de serviço de “mecdei” (de "mecânico" + "day" - "dia", em inglês - mecânico-de-dia, para os não iniciados no linguajar do GAE). O então Sargento Mário Sérgio também trouxe para o grupo dos veteranos do GAE lembranças “[...] desse acidente. Eu era 3S novíssimo - havia chegado em julho [a BASC] - e estava na cantina do Cassino dos Sub-oficiais e Sargentos, quando ouvimos um forte estouro. Não tinha ideia do que acontecera. Pensamos inicialmente tratar-se de estouro de pneu. Logo em seguida começaram a surgir as noticias.” Quando tratamos do acidente no facebook, o Mário Sérgio acrescentou que “ Se não me engano, faleceu um ‘tripulante’ que estaria apenas cumprindo provas aéreas. Um dia muito triste."



O Coronel Souza Lima guardou detalhes da circunstância (de acordo, também, com o relatório da investigação que se seguiu) de ter sido aquele um “[...] voo noturno. A pane ocorreu após o toque e arremetida [...]” e, segundo ele, “[...] o Deucir era da minha turma da AFA, o outro piloto [...] veio a falecer posteriormente, devido a problemas nos pulmões, provavelmente em decorrência do acidente". Segundo as lembranças do Sargento Souza, “[...] foi um voo de readaptação diurno/noturno com os Capitães Cesar Correia e Deucir, mais o Tenente Especialista Rebouças, do DPVSC” Ainda segundo o Souza, o “[...] avião caiu próximo á Vala do Sangue, e os pilotos foram resgatados por um pescador da área; segundo este pescador o Ten Rebouças já estava morto."

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