Doutor, eu tenho dupla personalidade! -Ora! Que bom! Vem cá, vamos conversar nós os quatro...

...o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada vivia uma vida dupla. Dupla personalidade. Personalidade fraturada. Uma unidade DA Força Aérea, vivendo uma VIDA DE MARINHA. Uma vez a bordo do Minas Gerais, operacional e administrativamente, o Grupo era parte do próprio navio, éramos parte da sua tripulação, e parte do seu Grupo Aéreo. Éramos o braço mais comprido do Minas, em se tratando de combate. O soco que atingiria o inimigo de mais longe. Sendo assim, a rigor, atendíamos ao calendário do navio. Ele se movimentava, lá estávamos nós, engarupados, com nossos poderosos P-16, para atender às necessidades da nossa "nave mãe" (a maioria de nós reservava-lhe adjetivos os mais desagradáveis, então. Hoje, não há veterano da Embarcada que não se comova à simples menção do nome do "nosso" navio).

Uma marca da Embarcada: sem nunca ocorrer a menor quebra de disciplina e cortesia militar, oficiais e graduados viviam uma proximidade absolutamente incomum. Coisas de quem voa junto, divide riscos junto e, depois da missão, volta para conviver no confinamento de um navio de guerra. O tipo de respeito que só se desenvolve entre os que dividem a trincheira, de fato. Não gostaria de parecer romântico, mas, desde o Shakespeare, passando pelo Ambrose, o tipo de laço que se expressa no termo "Band of Brothers". De pé, no centro da foto, um piloto, Tenente Fleming (D), e um operador eletrônico, Sargento Soares da Silva. Talvez, no ônibus que conduzia o pessoal de Santa Cruz, até a Ilha das Cobras, onde ficava atracado o Minas Gerais. e eu duvido que seja vinho naquele garrafão.

Vida de gente que voa... pois sim...

Bom, que bom que os russos não apareciam toda hora. No rancho dos Segundos e Terceiros Sargentos, no Minas Gerais, tinha um bar (ficava à DIR, a partir da posição do fotógrafo), que vendia cerveja e refrigerante, depois do jantar. Ninguém bebia mais do que o pessoal do GAE. Ninguém... A antepara (parede) de frente para o fotógrafo, formava o poço do elevador de vante, dos dois que serviam ao convés de voo. Ninguém!

Mas, não me entenda mal o distinto leitor! Por paradoxal que possa parecer, viver esta "vida dupla", conferiu à Unidade o condão de forjar uma "cara" única; tão própria, a ponto de ser uma "ilha", dentro da própria Força Aérea. Nossa linguagem e doutrina, eram as da Marinha dos Estados Unidos (USN), onde a Marinha do Brasil bebia, ela própria. Nossa missão era, em conjunto com a USN, negar o Atlântico aos submarinos Soviéticos; e isso não era coisa pro tempo das guerras declaradas. Isso era coisa para todos os dias, dos dias de paz. Algum dia algum historiador levantará quantas vezes nossas tripulações partiram para cima de contatos não identificados, fazendo-os correr para se manterem incógnitos. Nós vivíamos e voávamos pro combate anti-submarino (ASW, em inglês). Todos os dias. De verdade, isso nos mantinha com a "faca nos dentes", mesmo quando puxávamos nossos gritos de guerra, enquanto corríamos em forma, pela base, durante a Educação Física... EM-BAR-CA-DA!... enfim, uma cara própria, diferentes.

Um S-2G da Armada Uruguaya saúda a chegada do Minas Gerais. A Versão "G" era superior aos nossos aviões, mas os americanos não os vendeu ao Uruguai, completamente equipados; vieram sem o sistema acústico.

Montevideo.

Um S-2A/P-16A uruguaio sobrevoa o Minas Gerais.

Diante do portão da Ciudad Vieja, por onde se chega ao porto, à "darsena" onde o Minas estava atracado. Da ESQ para a DIR Sargentos Schirmer, o fotógrafo, Cinello, Roberto, e Rosalvo.

Pois nesta vida de ser parte do Grupo Aéreo do Minas Gerais, em SET87 compusemos (a Unidade; eu, ainda não havia chegado ao GAE) uma força naval brasileira que esteve no Uruguay. As fotos foram feitas pelo Sgt Cinello, então, fotógrafo do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, e foram todas reproduzidas aqui, escaneadas diretamente dos negativos, que eu recolhi em algum momento durante as limpezas das desativações tanto do 1ºGpAvEmb, quanto da unidade que assumiu suas instalações, aviões (P-95A) e pessoal, o 4º/7ºGAv.

O então comandante do 1ºGpAvEmb, TCel. Rômulo (ESQ) e um visitante, provavelmente uruguaio. Aparentemente durante o brifim que precede ao voo de demonstração que se seguiu, conforme se depreende das fotos a seguir. Não é possível exagerar o respeito e acatamento dos homens da Embarcada, a este comandante. "O Cel. Rômulo foi o único comandante do GAE que eu peguei, que jogava bola realmente!" Disse um veterano, recentemente, num grupo de whatsapp. 

O TCel Rômulo instalado no 7025, pronto para uma decolagem livre. Reparem no ângulo entre a linha guia da decolagem livre, que seguia o eixi longitudinal do navio, pintada no convoo, com as faixa laterais duplas da "pista" de pouso. Ninguém haverá de medi-lo, mas era de 8,5°.

Aproximação para toque e arremetida; reparem que o gancho não está abaixado, o que permitiria ao avião realizar um pouso completo. O Oficial Sinalizador de Pouso (OSP) está lá no extremo do convés de voo (convoo), protegido pelo seu quebra-vento.

A Seção de Armamento do 1º GAE praticando a instalação de torpedos nas estações das asas, no convoo. Aparentemente, pela presença de pessoal de marinha, deve ter sido um exercício praticado em conjunto com a Divisão de Armamento do navio.
 
Um flagrante inusitado, na medida que uma carga de profundidade, comum com os helicópteros da Marinha, é instalado, também, no 7030. Nós não possuíamos este tipo de armamento.

Curiosamente, um membro do esquadrão de helicópteros anti-submarino da Marinha, HS-1, demonstrando um traje anti-exposição. Ultrapassada a passagem atrás do campanha, virando-se à DIR, estava o principal acesso ao hangar do navio, por Boreste. Depois do escurecimento do navio, andar por esses conveses abertos, só com o auxílio de uma lanterna. Equipamento obrigatório.

A equipe de serviço no Convoo, em forma para algum tipo de solenidade, conforme consta das fotos seguintes, contou com desfile aéreo.



 

Comentários

  1. Excelente!!! Quanto ao andar nos conveses após o escurecimento, era necessário bem mais que uma simples lanterna, precisava de coragem também pois o assédio era grandes. Rs

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    1. ...assédio eu nunca sofri, mas uma vez eu tropecei, literalmente, numa homo-libertinagem de arrepiar!kKKK, aliás, com um irmão nosso!KKKK...

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  2. No âmbito histórico, face o tempo decorrido e o colapso da União Soviética, seria interessante o resgate desses relatos de "contatos não identificados" nas nossas águas territoriais ou durante exercícios de cunho internacional com outras Marinhas.

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    1. ...meu caro Francisco, institucionalmente, a FAB não devota interesse. Talvez, muito por conta disto, do ponto de vista pessoal, os veteranos da Embarcada nunca tiveram ânsias de divulgar suas experiências. E é só desta boa vontade, a pessoal, que se poderá obter o registro e preservação destas experiências. Muito obrigado pela tua atenção, e participação...

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