...schhh! Presta atenção, que a tua vida, e a dos teus colegas, podem depender disto.


...voar no 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GpAvEmb), a rigor, significava voar sobre a água. Um negócio meio esquisito, meio deslocado do que seria natural. Mal comparando, algo como ir ao espaço; ora, a rigor (mais uma vez), o homem não tem meios de manter-se vivo no espaço. Depende de equipamento e treinamento para manter-se por lá. Da mesma forma, a natural falta de asas, que impede ao homem de se manter no ar por si mesmo, à sua discrição, (e, no caso dos homens da Embarcada) se conjugava com a também natural falta de atributos anatômicos e psicológicos que lhe permitam sobreviver por muito tempo dentro d´água.

O bote coletivo dos P-16. A princípio, ele deveria ser inflado automaticamente, assim que o avião tocasse a água salgada. Para tanto havia um sensor no nariz do avião, que disparava a sequência. No caso do 7030, não funcionou.

Além destas incompatibilidades primevas, destes "deslocamentos", havia a natureza militar e operacional do voo. Não sobrevoávamos regiões preestabelecidas por convenções internacionais, de onde se poderiam iniciar buscas, uma vez detectada a nossa falta. Da mesma forma, muitas vezes voávamos em silêncio rádio; em algumas fases das caçadas aos submarinos, estávamos muito abaixo de qualquer possibilidade de que alguém, mesmo os navios mais próximos, nos tivesse nos radares, para que se, em caso de sinistro, se tivesse um ponto seguro para início das buscas. E além do mais, se o prezado leitor nunca participou, não conhece as dificuldades de se encontrar alguma coisa nas vastidões (VAS-TI- DÕES!!!) do Mar Oceano, durante uma operação de busca! Basta lembrar o volume de meios que se empregou no caso do B-777 da Malaysia, e o que resultou de todo aquele esforço. Enfim, voar sobre a água... tudo errado. 

Sobrevivência no mar, na história do 1º GpAvEmb,  desde 1961, em Pensacola, na Florida, onde os primeiros Cardeais e Anujás fizeram sua formação para receber os P-16 e H-34.

O "Dilbert Dunker", mergulhava de frente, e acabava numa posição invertida, sendo que o sujeito tinha que, depois de parada a coisa, soltar o suspensório e deixar a cabine. Quem viu "An Officer and a Gentleman", com o Richard Gere, sabe como funciona.

Estas imagens de Pensacola são slides, que eu consegui juntar, espalhados que estavam pelas caixas do antigo GAS.


Bueno! Mas como ninguém nos chamou para estarmos no GAE, estávamos lá por escolha (certo, nem todos, mas independentemente disto), o melhor a fazer, no tocante à própria sobrevivência, no caso de sobrevir uma amerissagem, era munir-se de equipamento e conhecimento para o caso de termos que enfrentar tamanha dificuldade. Como os astronautas. 


Embora eu não tenha informações de quem foi o autor desta imagem, e da seguinte, sei que foram feitas em 1971, conforme anotado no envelope que guardava os negativos.


De fato, a chegada ao GAE implicava em algumas semanas de aulas, de instrução. Algumas delas, por óbvio, tinham que ver com os equipamentos e técnicas de sobrevivência. Às aulas expositivas, teóricas, seguia-se a instrução prática, o que, no caso da sobrevivência no mar, levava o pessoal primeiro para as piscinas da Base (Santa Cruz, claro), para a ambientação. Depois, por fim, havia a grande aventura no mar, propriamente dito, com o resgate através de helicópteros. Medo, apreensão, sofrimento, mas, depois, era ótimo para "tirar onda" com os mais modernos, ou, quem não participasse dos exercícios. Também, tudo aquilo era uma ótima fonte de "fichas", os causos, que são, sempre, mais ou menos romanceados, como qualquer história de pescador, ou outros tipos de mentirosos quaisquer. Até os astronautas fazem isso.


Piscina do Cassino dos Suboficiais e Sargentos servindo de sala de aula para que os instruendos se familiarizarem com o emprego dos coletes, como subir aos botes individual e coletivo, como usar a faca curva, etc, etc


Permita o distinto leitor um abuso na paciência, e a inclusão deste parêntesis: dos nossos acidentes, o 7014 pousou no mar, todos os tripulantes abandonaram o avião e foram resgatados por um cargueiro argentino, o "Rio Lujan"; o 7022 perdeu-se, tendo os pilotos (Tenentes Villas Boas e Ponte) informado sua posição, contudo, nunca foram encontrados; os 7020 e 7030 caíram ao mar durante pousos a bordo do Minas Gerais, e quatro dos cinco tripulantes envolvidos conseguiram sair dos aviões e acionar seus equipamentos de sobrevivência, sendo que perdemos o Sargento Renato, no 7030. Curiosamente o Renato, na noite anterior, havia ministrado a instrução de abandono do avião ao próprio comandante do navio! E foi o comandante muito generoso ao citar este fato, quando se dirigiu à tripulação do Minas no final daquele dia triste, para informar o encerramento das buscas ao Renato.

A Embarcada passou muitos anos sem exercícios práticos de sobrevivência, até que a Marinha ofereceu espaço na Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia, na Unidade de Treinamento de Escape de Aeronaves Submersas (UTEPAS). Aqui, três fotos da primeira vez que eu realizei o exercício, em MAI96. Quem tirou as fotos foi o Sargento Eduardo.




Ainda que sem os exercícios práticos de sobrevivência, as turmas da seção de Equipamento de Voo (EQV) se encarregava de ministrar as melhores aulas teóricas possíveis. Quando havia lotes de pirotécnicos vencendo, eles nos levavam para fora e nos permitiam disparar todo o tipo de sinalizadores. Numa destas que eu ouvi, pela primeira vez, o Nogueira, o grande Nogueira, chamar o pacotinho com repelente de tubarão, de "molho"... nem os astronautas pensariam nisto. Aqui o que continham nossos velhos coletes salva-vidas "Papos Amarelos".

As fotos em P&B são dos sofisticados coletes, com suas marmitas de alumínio, que substituíram os "Papo-Amarelo".


Material do Kit de Sobrevivência no Mar, que se juntava ao bote coletivo.


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