"Vidas Cruzadas". Podia ser o nome de um filme, mas é a saga de três P-16 da Embarcada.
O 7037 fotografado por mim, há onze dias de ser entregue ao MUSAL, em 19DEZ96. O único, e último P-16, operacional, na linha de voo da Embarcada. |
...eu entrei para a Força Aérea (FAB), para servir no Primeiro Grupo de Aviação Embarcada. Eu sempre fui louco ( L O U C O ) por aviões, mas ansiava pela experiência dos porta-aviões, depois de ter lido sobre Midway, lá pelos meus doze anos. Bem, como já cantaram os Demônios da Garoa: "Deus é bonzinho pra nóis", e eu, de fato, fui para a Embarcada, curtir a realização dos meus sonhos de guri; até que veio o estrangulamento e a extinção do Grupo. Depois disto, eu passei uns anos, como um louco, revirando os escombros materiais da unidade, procurando guardar, e livrar da reciclagem e do lixo, algumas coisas que dissessem respeito ao cerne do 1º GpAvEmb, e seus aviões. Às vezes, eu apenas pegava um chumaço de papéis que encontrava na gaveta de uma escrivaninha, empilhada sobre outras numa das seções abandonadas aguardando destino, para posterior triagem.
A seção central da asa é unida à fuselagem do BuNo 152370 nesta outra foto que eu fiz, também em DEZ88. O conjunto estava sendo preparado para ser posto em um pedestal, na Base Aérea de Santa Cruz, representando o 7031, recém destruído num acidente a bordo do Mingão. |
Pois deve ter sido assim que eu acabei encontrando o documento abaixo que, comparando com o que acabou acontecendo com um dos aviões alvo deste artigo, o 7037, revela o quanto pode variar o interesse administrativo, no âmbito do serviço público. Na verdade, como eu já expus em outros artigos aqui no Blog, o 7037 foi entregue em condições de voo, mas, ficou exposto aos elementos desde aquele triste 30DEZ96, ficando assim, por mais de 22 anos. Hoje ele está recolhido a um hangar dos Afonsos, é verdade, mas eu não consegui encontrar algumas fotos que o mostram sob um teto, finalmente.
O Coronel Jordão, na verdade, foi o primeiro piloto do 1ºGpAvEmb a pousar a bordo do Minas Gerais, em 1965, a bordo do 7021. Evidentemente ele tinha um interesse pessoal e profundo com a Embarcada. |
O serviço de aliviar o peso da célula do BuNo 152370, uma verdadeira "boca-pobre", é claro, como reza o manual, recaiu sobre os Sargentos recém chegados (JAN -Amarela 86- e JUN -Azul 86) ao Grupo, alguns dos quais eu fotografei, enquanto eu mesmo lutava para cortar cablagens e remover equipamentos e acessórios elétricos. Da E para a D: Sgts Rodrigues, Euler e Kinach, todos da Seção de Comunicações. O "instrumento de precisão" na mão do Kinach dá uma ideia da natureza do serviço que nós realizamos.
Sejam quais tenham sido os problemas com a não preservação do 7037, o 7031 (segundo avião coberto neste "causo"), a que se refere o documento do Coronel Jordão, foi, de fato, perdido em MAR88, num acidente a bordo do Minas Gerais (que também já está descrito num artigo aqui do Blog). Era esta "SUCATA" que o Cel. Jordão procurava incluir no acervo do museu dos Afonsos. Na verdade, ao fim e ao cabo, ele pediu, mas não levou. Nada obstante, embora eu não conheça alguma possível ligação entre a iniciativa do Cel. Jordão em preservar o 7031, e a colocação de um P-16 sobre um pedestal na Base Aérea de Santa Cruz, a verdade é que este era um plano em andamento quando eu cheguei lá, em JUL88. E é onde entra o terceiro avião da nossa história.
O 7037, sofrendo suas penas no MUSAL, onde, ainda por cima, recebeu esta maquiagem espúria, com a cauda verde e amarela sobre a camuflagem com que o "37", de fato, terminou sua carreira. Pelo menos, há coisa de uns dois anos, ele está ao abrigo dos elementos. Eu desconheço a fonte desta foto. |
Ora, como o '31' ficara muito comprometido pelo fogo, ele teve sua fuselagem e seção central das asas inteiramente descartadas, sendo que para o projeto do pedestal em santa Cruz, utilizou-se uma das células 'logísticas' estocadas no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, o BuNo 152370. O BuNo 152370, na verdade, fez parte do último lote desta natureza comprado pelo Brasil, em 1981. Ele chegou a ser provisoriamente matriculado 7038 para o seu (último) voo, que o trouxe dos Estados Unidos para o Brasil (também já coberto por um dos artigos do Blog). Contudo, o plano do monumento em Santa Cruz, também acabou engavetado, quando o '31' já estava em adiantado estado de montagem. Eu lembro que o motivo alegado para cancelar a colocação do P-16 como monumento, sobre um pedestal, fora a aplicação da política da FAB de não colocar em monumentos, aviões que ainda estivessem na ativa. Parecia fazer sentido, até que eu vi o F-14 da Marinha Americana, fincado à entrada do National Museum of Naval Aviation, em Pensacola, na Flórida, em 1996... bem, fato é, que perdemos o 7031, perdemos o BuNo 152370, e o 7037 pende dos humores da administração do MUSAL. As fotos que se seguem são do 7037, fotografado em 23MAI19, nas dependências daquele museu, feitas pelo meu amigo, veterano da Embarcada, Suboficial Franklin.
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