Arrancar um siso pelo reto. Não, não se pode querer que dê certo!

...entre os dias 20 e 22MAR91, o Minas Gerais pôs-se ao mar para realizar um embarque visando a qualificação para operações aéreas embarcadas do protótipo do P-16H. P-16H foi a re-designação que recebeu o primeiro avião da frota do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, o 7036, que teve seus confiáveis, mas cansados, motores Wright Cyclone, substituídos pelo turboélice PT-6A-67AF. Para nós, era uma festa! Nossos aviões, finalmente modernizados, e a nossa unidade pronta a continuar uma história da qual nos orgulhávamos, e um estilo de vida "marinheiro" que seduzia a maioria de nós, com horizontes infinitos em torno do nosso navio, e portos novos a cada semana. Como diria o Leonardo di Caprio na proa do navio dele, nós éramos, então, os "kings" do mundo!

Eu tirei esta foto logo depois do 7036 ter parado após seus primeiros toques e arremetidas e pouso final, no final da manhã do dia 21MAR. Executávamos um check pós-voo, antes de descermos para o almoço. Sobre o avião, Sgt Cláudio. Em pé (ESQ/DIR) Sgts Salles, Ricardo, Os técnicos canadenses Mr, Snow (o mais alto) e o simpaticíssimo Cy; Sgts José Carlos e Batalha; o Soldado, embora lembre bem dele, me foge o seu nome, e Sgt Carlos. Agachados, Sgts Kinach, C. Antônio, Marcondes e Alex. Claro, a maioria tinha apelidos, mas isso não vem ao caso, agora...

De fato, coisa de um ano e meio depois, aí pelo dia 10AGO92 o Sgt Carlos Alberto, fotógrafo do Grupo, ainda registrava o entusiasmo da unidade com o processo de revitalização dos nossos aviões, e as boas perspectivas que isso trazia para todos nós. Até mesmo no para-brisas da Kombi da unidade, que acabara de ser envolvida numa colisão (aparentemente, foi na Av. Brasil), aparece um adesivo do "S-2T", "T" de Turbo... "T" de "deu TUDO errado".

A designação S-2T se generalizou pelo mundo, indicando os Tracker modernizados com turboélices. Mas, para a FAB, eles eram os "P-16H", curiosa e aparentemente, seguindo a sequência das designações da Grumman/USN, cuja última da série havia sido o S-2G. Os S-2G não eram aviões novos, senão que S-2E que receberam uma suíte eletrônica mais avançada, mantendo seus motores convencionais.

Até o Sgt. Wallace largou seu violão para perpetuar seu entusiasmo com a aparente continuidade da Embarcada.

Bem, entusiasmos à parte, em coisa de mais um ano e meio, as chefias da Força Aérea decidiram encerrar todo o programa. Em que pese considerarem (ofício de 22DEZ93) a possibilidade da perda da capacidade operacional ASW (Guerra Anti-submarino) "[...] lamentável para a operacionalidade da Força [...] o tempo previsto de permanência dos P-16 em operação é curto [...]". Na verdade, a desativação estava marcada para o dia 30DEZ96. Em função da urgência, portanto, era preciso, rapidamente, "[...] proceder a estudos visando aquisição de novos meios [...] antes que a Marinha o faça (sic) [...]". Neste mister, a ideia era "[...] orientar o processo de desativação dos P-16 sem extinguir o 1ºGAE [...] devido à necessidade de manter-se tripulantes operacionais, que não podem estar sujeitos à transferências neste momento, mesmo que excedentes na unidade [...]". Ora, o documento informa que sabia-se da possibilidade da compra de um porta-aviões francês, capaz de operar Trackers e jatos Super Étendard como os da Argentina, e expressa preocupação: "Julgo que devemos ter uma posição clara a respeito dessa possibilidade que, segundo consta, será concretizada em 1996." Ora, lendo estas coisas, eu, aqui do topo das minhas limitações, me pergunto, assim de vereda: se era preciso adiantar-se à Marinha no tocante à operação de aviões em um novo porta-aviões, porque, com todos os demônios, desativar os aviões da única unidade já operacional nas operações aéreas embarcadas?! Não haveria "resposta nos próximos capítulos". Não haveria "próximos capítulos".

Brabo e grosso uma barbaridade (como seria bom que fossem todos os gaúchos), mas "vibrador" e dedicado como poucos! Amante dos aviões, piloto comercial de sucesso, meu amigo, meu irmão, o então Sargento Medeiros e o P-16H 7036.

Pois, ao fim e ao cabo, em que pese todo o esforço de alguns abnegados, não menos o do último Comandante do Grupo a embarcar, o T. Cel Souza Lima, não foi possível convencer aquelas chefias da conveniência de se investir na continuidade da missão e dos aviões, e a Embarcada foi condenada a desaparecer. E o país ficou sem ASW de longo alcance até a chegada (15 anos?) dos P-3 que, ao que parece, tem estado com a disponibilidade muito baixa; igual ao tempo do final de carreira dos P-16, há 26 anos. Me parece que continua "tudo como d´antes, no quartel do Joaquim". Com exceção das fotos coloridas, as imagens foram obtidas do escaneamento de negativos que estavam num envelope datado como 12 de agosto de 1992.

Dois soldados da Base, não pertencentes ao 1º GpAvEmb, tirando uma casquinha junto à vedete do momento. este programa de revitalização repercutiu na imprensa internacional especializada. É possível encontrar matérias e notas nas revistas de aviação da época.

Esta foto eu bati em DEZ02, e se vê o 7036 já desmontado e embalado para a viagem marítima de volta aos Estados Unidos. Não encontrei o paradeiro desta célula, entretanto. Consta que foi adquirida pela Marsh Aviation; talvez não tenha sido remontado, e sirva de fonte de peças para os seus irmãos ainda voando por lá, combatendo incêndios florestais. Nobres na guerra, nobres na paz, estes valentes Tracker.


 

Comentários

  1. Foi como a Copa de 82, esperávamos tanto, mas ao final...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ...ao final, Gustavo, pagamos pelos nossos erros...excepto os funcionários públicos, que, para todos os efeitos, e quanto mais alto estiverem na pirâmide administrativa, são inimputáveis. Muito obrigado por todo o incentivo!...

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas