Alguns passos da abortada revitalização dos P-16
...as projeções sobre o processo de revitalização dos P-16E do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada previam um processo dividido em duas grandes áreas: a remotorização, e a substituição dos equipamentos eletrônicos operacionais que, de fato, transformavam aqueles aviões incríveis em verdadeiros rastreadores ("Tracker", não é mesmo?) e caçadores de submarinos. Quando se fala em aviação Anti-submarino (AS), não é possível exagerar a importância que o controle do mar representa para um país como o Brasil. Eu devo convidar o leitor mais paciente a uma pesquisa rápida sobre os interesses nacionais desdobrados nas águas territoriais e no litoral brasileiros, de maneira a que possa formar uma ideia das ameaças e fragilidades desta "jugular" tão exposta. Imagine, tão somente, óbvios ataques de submarinos (com torpedos, ou, mísseis), contra as plataformas de petróleo...
Bueno, considerações estratégicas e estruturais de parte, iniciando a execução da primeira fase do projeto, uma mensagem rádio da Segunda Força Aerotática (FAT 2), de 05JAN89, estabeleceu que o P-16E (S-2E BuNo 152836) 7036 seria o protótipo para primeira fase da revitalização. Outro rádio, do dia dezesseis, previa a data para a partida do "36" para o dia 06FEV. Além disso, determinava ao 1º GpAvEmb providenciar suas necessidades para o translado até Halifax, no Canadá, sede da IMP, que faria a conversão; a unidade deveria ajustar necessidades de suprimento e homens para apoiar o longo voo. Naquele mesmo dia o Grupo indicava os Suboficiais Gonçalves, Moacir, Abreu e Gusmão, e os Sargentos Martiliano e Nogueira, todos chefiados pelo Capitão Especialista em Armamento Nélio. No dia seguinte, o GAE informou a necessidade de transportar 1500 Kg de suprimentos, que ocupavam 2,9 metros cúbicos de espaço, sendo a maior embalagem de 0,75metros cúbicos.
Da equipe de manutenção, todos eles veteranos experimentados. "Antigões" e marcos dos padrões de dedicação à unidade, de qualidade na execução dos serviços. Aqueles a que todo recém-chegado na unidade se via forçado a aderir, sob pena de ver-se numa prateleira secundária, ou, pedir transferência. Esta turma acompanharia o 7036 a bordo de um cargueiro Avro do 2º/2º GT, que foi comandado por um veterano do GAE, o T.Cel Walkir. Da mesma forma, em outra mensagem rádio do dia 16JAN89, seguiram os nomes dos tripulantes do próprio 7036 (já apareceram em outro artigo deste blog): além de um mecânico, os Capitães Haiki, Marcos Antônio e Conti. Por algum motivo, o Cap. Conti acabou substituído pelo Cap. Flemming.
De fato, conforme informação constante na transcrição de uma mensagem rádio de 13MAR89, o 7036 foi entregue à IMP em 28FEV89, demonstrando o cumprimento preciso de uma missão tão complexa. Ao ser entregue no Canadá, o 7036 contava com 6.349:25 horas totais de voo, e 239:20 parciais. Ele nunca mais voou operacionalmente, uma vez que, decidida a descontinuidade do programa de revitalização, não era possível reinstalar nem mesmo os equipamentos AS antigos.
Sem a revitalização, na prática, o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, desde FEV89, apenas perdeu um avião, sobrecarregando ainda mais sua frota já combalida. Nada obstante, permita a paciência do leitor apelar ainda à uma comparação: as pouco mais de 6.000 horas apresentadas pelo 7036 em FEV89 (e pouco mais ele pode acumular), são uma mera fração das 25.000/30.000 horas previstas para a vida útil de uma célula de S-2. O nosso P-16 mais voado era o 7030, perdido no mar em 15NOV95 (quando perdemos o Sargento Renato Souza Dutra), com pouco mais de 10.000 horas. Mas findou-se o GAE, e a famosa "pátria" ficou mais de 15 anos sem capacidade de guerra AS... ela e seus interesses marítimos...
Com exceção da foto em P&B acima, todas estas fotos vieram de uma espécie de relatório visual sobre a revitalização, enviado para Santa Cruz. Eu já havia publicado algumas delas na página dos veteranos da unidade, no FB, e um dos nossos veteranos, o Cledson, que serviu como Soldado no Grupo, identificou a letra do pai dele, o Suboficial Valdeci, nas costas das fotos. O Sub Valdeci, junto do Sub Canindé, ficaram no Canadá, acompanhando os trabalhos da remotorização. Estes trabalhos encontraram algumas discrepâncias nos equipamentos e sistemas do 7036, que foram reportados e geraram ações investigativas e corretivas aplicadas a toda a frota remanescente no Brasil.
Problemas na articulação do flap. |
Sujeira sob o assoalho. |
Sujeira nas células de combustível. |
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