7016, vou te dizer uma coisa: "You are Sixteen"

O "16" no seu ambiente; onde ele era mais feliz (ele não esconde isso até hoje), operando a partir do convés de voo do inesquecível Minas Gerais. A foto é reprodução de um diapositivo que eu encontrei avulso entre os escombros pós-desativação da Embarcada.


 ...em 23AGO95 o P-16A 7016 (BuNo 149039), do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada, foi entregue ao Museu Aeroespacial do Campo dos Afonsos. Ele era um dos P-16 originais (S2F-1 para a Marinha dos Estados Unidos), recebidos novos, de um lote construído especialmente para o governo brasileiro, em 1961. Eram parte das contrapartidas Norte-americanas à seção de Fernando de Noronha para o seu uso. Ao final da sua vida operacional, o "16" contava com 6.318:20 horas de célula, portanto, voara coisa de 1/4 da vida prevista para estas máquinas (coisa de pelo menos 25 mil horas). É bom lembrar que irmãos dele ainda há pouco, voavam como aviões-bombeiro, combatendo incêndios florestais.

Esta foto pode ser um registro da entrega do 7016 ao 1°/1°GAE, em Key West, em 25FEV61. O quarto, em pé, da ESQ para a DIR é o T. Cel. Becker, o Cardeal 01, então comandante do Esquadrão. O GAE possuía o 2° Esquadrão (2°/1° GAE), operando os helicópteros H-34 (HSS-1).

O 7016 foi na verdade, o primeiro P-16 recebido pelo 1°/1°, e como estava muito em voga uma música chamada "You´re Sixteen", ele recebeu uma "nose art" improvisada, com o título da música referindo-se à matrícula. O Brigadeiro Assis, então Tenente, dividiu conosco a lembrança:

"Era o queridinho do Maj Wandir Binato Nogueira (o P-16 7016), que achava que [o avião] era dele. Ele escreveu com o lápis que usávamos no 'Plotting-Board' a letra [o título] da música (You´re sixteen) no nariz do 16".


O Cardeal 01, T. Cel Becker é recepcionado no Calabouço, ao chegar ao Rio de Janeiro comandando o translado dos primeiro P-16 que chagavam ao Brasil. Pilotando qual avião?...

Pois bem, quando eu me apresentei na Embarcada, em JUL88, depois de terminada a minha formação na Escola de Especialistas de Aeronáutica, o 7016 não estava lá, estava recolhido ao Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, para uma das grandes revisões a que os aviões eram periodicamente submetidos. Ele chegou alguns meses depois, contudo, já com a camuflagem definitiva dos P-16, e ele era um avião diferenciado por ser um "Alpha" (em contraste com os nossos P-16E, os "Echos") em estado original. Pelo seu destaque histórico, ele era o avião escolhido para ser recolhido ao Museu dos Afonsos (MUSAL) e portanto, não fora convertido em utilitário como todos os seus outros irmãos. Apesar disto, ele permanecia essencialmente um avião auxiliar, sem carregar os equipamentos que originalmente faziam dele um caçador de submarinos. Nem mesmo a grande carenagem da antena de CME (ECM) estava instalada, embora tudo permanecesse embalado e estocado no Suprimento da unidade, guardados pelo zelo do incrível SO Armstrong, e pelo inacreditavelmente eficiente Sargento Anselmo, que era capaz de ter de cabeça a situação do estoque daqueles milhares de itens. O homem era um dos prodígios que eu conheci na Embarcada.

Primeira foto que eu tirei do 7016, em NOV88, já com a pintura definitiva. Reparem na falta da antena de CME, nos "Chutes" de Sono-boias na nacele do motor, no radome do radar no ventre, e na carenagem do DAM sob o leme, tudo preservado para o futuro recolhimento ao MUSAL, embora as "caixas-pretas" não estivessem instaladas.

Bueno, a despeito das qualidades dos homens do suprimento do 1° GpAvEmb, estava chegando o dia do 7016 ser recolhido ao museu. A Manutenção começou o processo de remontagem do avião, serviço executado e supervisionado ainda por um bom número de homens que haviam voado com ele operacionalmente, nos anos 1960 e 1970. Da minha parte, eu aproveitava para fotografar o processo, sem imaginar que me envolveria num acidente no estande de tiro da Marambaia, onde o GAE treinava o lançamento de foguetes e bombas. Seja como for, por fim, no dia da partida do 16 eu convalescia em casa, não poderia fotografar o momento histórico.

Para mim, um evento. Sempre apaixonado pela Embarcada, desde antes de ingressar na FAB, era a primeira vez que eu via um "Alpha" na sua configuração original. Estas três fotos seguintes eu fiz naquele mês de agosto.


Os "Chutes" (lançadores) de Sono-boias. Originalmente, acima deles havia outros dois para boias mais antigas, de maior diâmetro.

Outra exclusividade dos "Alpha", um retro lançador de marcadores marítimos. 

Meu querido e fiel amigo, mais para um irmão que fiz na FAB, o brabíssimo gauchão, filho de Capão do Leão (RS), o Medeiros, esteve comigo na véspera, e eu passei a ele a minha máquina fotográfica, com algumas instruções de como ajustar abertura, velocidade e foco, e coube a ele, por meu pedido, a tarefa de registrar a partida derradeira do 7016, de Santa Cruz. O 7016 contabilizava 11.970 pousos e 02:20hs após inspeção.

Fotografado pelo Medeiros, o 7016 deixa a linha de voo da Embarcada pela última vez. As fotos seguintes fazem parte da sequência de registros feitos pelo Medeiros.

Decolagem em esquadrilha.



Sobre aquele dia, para o gosto dos historiadores e aficionados, não restaram apenas registros fotográficos, para nossa felicidade. O então comandante do Grupo, T. Cel. Souza Lima compartilhou suas lembranças:

"Fui o piloto do voo de entrega, com o Big.Becker [...] Tem uma foto da passagem baixa que o Becker deu no pátio, que fiquei arisco e achei que o gancho ia bater no chão. Se alguém tem essa foto, por favor publique. Linda. E ele voou o tempo todo; só fui no rádio e insistindo para pousar nos Afonsos, que a tropa estava em forma para a solenidade e ele curtindo o voo. Grande voo. Grande piloto".


Foto do arquivo pessoal do Brigadeiro Assis, com o 7016 no MUSAL. Foi ele quem, como Tenente, recebeu o "Uno Meia" em Key West, em 1961.

Uma vez eu pousei em Guarulhos com o 7016 (DEZ88), e tirei esta foto enquanto taxiávamos para a Base. Pode ser útil aos plastimodelistas. 



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