O "dozimo-milésimo" (12.000º) pouso a bordo, é só mais um pouso a bordo...


 ...entre 27AGO e 05SET85, o Primeiro Grupo de Aviação Embarcada realizou um embarque de "catrapo", o tipo de embarque destinado não ao exercício da sua principal atividade predatória (caçar submarinos), mas a exercitar outras características VITAIS da sua natureza precípua: qualificar e requalificar as tripulações, e os OSP (Oficial Sinalizador de Pouso, ou, LSO, em inglês) para as operações aéreas embarcadas. Na verdade, na Embarcada nós sempre qualificávamos os embarques em duas categorias, "de catrapo", ou os "operacionais"; estes, voltados ao desenvolvimento da nossa principal atividade de combate, a detecção, localização, identificação e destruição de submarinos considerados hostis.

Se o 12.000º pouso era uma efeméride a ser preservada na memória, por certo que deveria ser registrada para a posteridade. Esta era a minha premissa original, confirmada pelo próprio Brigadeiro Peclat, que me levou a considerar esta como a tripulação daquele evento. Na ESQ, Tenente Peclat, o outro é o Tenente Magalhães, que eu não tive oportunidade de conhecer..

Permita o digníssimo leitor uma pequena digressão técnica. Estas imagens foram escaneadas diretamente dos negativos feitos pelo fotógrafo do Grupo, o então Sgt Cinello. Eles estavam em um envelope numerado, cuja anotação correspondente no livro de registro dos trabalhos dos fotógrafos, registra a ocorrência do 12.000º pouso a bordo do Minas Gerais. A efeméride levanta uma questão: doze mil pousos do GAE a bordo do navio, ou, doze mil pousos verificados a bordo do navio? É preciso ter em mente que, antes do 1º GpAvEmb ser admitido a bordo pela primeira vez, em 22JUN65, o Minas Gerais havia recebido a bordo aviões da Royal Navy em OUT60, durante suas provas de mar. Também operaram no seu convés de voo os T-28 que a própria MB adquiriu em 1963.

Sim, sim, eu concordarei com o gentil leitor: uma arremetida no ar não é um pouso, mas, a foto ficou linda, dramática...

Após o pouso, vê-se na posição do 2P (co-piloto) um convidado da MB. Estes voo de cortesia não eram raros... não há porque negar cortesia e elegância àquele país amigo chamado Marinha.

Infelizmente, também não havia indicação de qual avião, e que tripulação, efetuou o 12.000º "gancho". A única pista para identificar os envolvidos vinha do fato de apenas uma tripulação ter sido fotografada naqueles rolos de negativos, a que aparece mais acima, posando diante do 7017. Se a tripulação registrada naquele frame foi realmente a envolvida na comemoração, o encadeamento dos negativos sugere que a primeira imagem (no topo do artigo), no momento do "cut-cut" (a ordem do OSP para o piloto cortar a potência e deixar o avião afundar para a área dos cabos), seria a do 12.000º gancho. Mas, tudo no campo do "se". Além de fotos e negativos, eu pude preservar alguma papelada, relatórios, Planos-do-dia, referentes aos embarques, mas não encontro nenhum registro mais sobre o 12.000º pouso. Tampouco nas próprias publicações do GAE, como os cancioneiros, publicados para as Ceias dos Cardeais, e o grande álbum "Histórico Fotográfico". Nada obstante, usando outros canais de comunicação com o então Tenente Peclat, hoje ocupando um posto no Generalato, na reserva da FAB, pedi-lhe que avaliasse a minha tese baseada apenas nos indícios fotográficos. De fato o Brigadeiro Peclat confirmou no nosso grupo de veteranos do FB:

"A observação está correta. Eu, Tenente Peclat, e Tenente Magalhães éramos a tripulação do 12.000⁰ pouso a bordo. [O] Ten. Magalhães teve o privilégio de executar o pouso!"

 


Repare o paciente leitor que esta foto, de novo, não é um pouso, senão que um toque-e-arremetida. O gancho não está baixado, nem arrastando nenhum dos cabos de parada.


Em campanhas de catrapo, quando pilotos novos, ou, há muito tempo afastados da atividade podem não estar no melhor estado de domínio da arte; é quando podem acontecer sobre-esforços, e a máquina acusar a falta de "delicadeza". Para o caso do leitor não estar ao corrente das práticas na aviação, em que pese a falha do material ser sempre uma possibilidade, os pneus tem um número previsto de pousos, após o qual, independentemente do seu estado, são trocados.

Pois bem, esclarecida a incerteza, preenchida a lacuna na memória da Embarcada, vamos considerar que pousos são o que não falta num embarque de catrapo (pessoalmente, não sendo aeronavegante, eu "piruei", voei "de saco", em uns 50 deles; uns 30 destes, noturnos), como fica bem registrado nesta sequência de imagens; pousos historicamente significativos, pousos com convidados, pousos com incidentes e, os pousos que não mereceram registro. De qualquer maneira, o 7017 por esta época já havia sido convertido para as funções de utilitário (como o "meu" querido 7024, acima). É por isso que se vê um passageiro da MB desembarcando de um deles, abaixo; eles podiam carregar alguns passageiros e pequenas cargas. Como se vê, os homens do GAE de serviço no convoo já estava a postos para receber, das mãos da tripulação, o relatório-de-voo, onde se registravam eventuais panes. Estas deveriam ser "atacadas" de pronto, de maneira a que o avião estivesse disponível para o voo, o mais rápido possível... e isso não é recurso de retórica, tão em uso nestes dias de pregações em mídias eletrônicas. Mas, é claro, "dozimo milézimo", é um recurso retórico usado por alguém, em alguma sala de estar da Embarcada, para se passar por engraçado...

Na ESQ, sinalizando para o fotógrafo, o Sargento H. Leite, Especialista em Comunicações, homem dos mais cordatos que eu conheci. Ao centro um passageiro "naval" e, na DIR, o "monstro sagrado" da oficina de Sistemas Elétricos de Aeronaves, o Nogueira. Uma geração curtida no fogo, real, da solução de problemas num porta-aviões, onde só a excelência é aceitável, e exigida "pra ontem". Orgulhosos e conscientes do papel que desempenhavam. Pensar neles me emociona até hoje.
















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